sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Barraco na Casa Branca!
09/06/2025

O bate-boca entre Trump e Musk expressa as tensões na extrema-direita, opondo os poderes político e econômico em uma crise sem precedentes.

Nos últimos dias, o mundo foi surpreendido pela briga entre Donald Trump e o bilionário sul-africano Elon Musk. Embora alguns especialistas digam agora que a ruptura era inevitável, o bate-boca público, via “X”, surpreendeu o mundo e chocou pela virulência e gravidade das acusações.

Musk é um empresário ousado, que, além do “X”, lidera outros negócios high-tech como Tesla, Star Link e Space X, além de ser um dos fundadores da OpenAI, que criou o ChatGPT. Com negócios que dependem de vultosos subsídios públicos e fartos contratos governamentais, Musk “investiu” mais de US$250 milhões na campanha de Trump à Casa Branca. Em recompensa, foi designado para liderar a Agência de Eficiência Governamental (DOGE, em inglês), visando efetivar o ambicioso plano de corte de gastos públicos proposto por Trump. Mas a aliança durou pouco.

Em cerca de 6 meses, a cisão entre os antigos aliados trouxe à tona as relações espúrias entre os interesses privados de Musk – e muitos outros empresários, que, sim, dependem das benesses públicas para continuar a existir – e o titular da Casa Branca, cujo polêmico projeto de corte de gastos e investimentos públicos atingiu também as empresas do sul-africano. Apavorado com os prejuízos – depois de registrar queda de 71% do lucro líquido em 2024, a Tesla, por exemplo, viu suas ações caírem aproximadamente 15% nos últimos dias – Musk saiu atirando para todos os lados.

Além de criticar o plano de austeridade recém aprovado pela Câmara dos Deputados – a matéria agora está no Senado –, pondo em xeque a capacidade política e administrativa de Trump, Musk também sugeriu que o presidente – cujos escândalos sexuais já impactaram negativamente sua campanha – está imbricado no caso Epstein, que envolve prostituição e exploração de menores. Em síntese, disse que Trump, além de incompetente, é pedófilo.

Embora fragilizado pela dependência econômica de suas empresas, Musk não está derrotado. Além do imenso potencial que empresas como o “X” possuem de influenciar eleições – o circo já está armado no Brasil em favor da extrema-direita em 2026 -, há forte suspeita de que enquanto esteve à frente do DOGE, Musk acessou e coletou, provavelmente de forma ilegal, dados pessoais, fiscais e tributários de milhões de americanos, considerando tanto pessoas físicas quanto jurídicas, inclusive órgãos públicos. Trata-se de uma gama de informações jamais posta nas mãos de um empresário estrangeiro, que possivelmente iniciou suas atividades nos EUA de modo irregular, do ponto de vista migratório. O amigo leitor já imaginou quanto países como China, Rússia, Coreia do Norte e Irã podem pagar por essas (e outras) informações?

Além da popularidade de Trump, que já vem derretendo pela insólita conduta da política e da economia norte-americana, a briga com Musk pode impactar diretamente as eleições legislativas do próximo ano, quando os americanos serão convidados a renovar 1/3 do Senado e a totalidade da Câmara. Uma derrota parlamentar pode reempoderar os Democratas ou abrir espaços para partidos independentes, até aqui com pouca expressão política. Isso seria trágico para Trump, cujo impeachment pode entrar no horizonte. O “MuskGate” pode estar só no início…

Todavia, no momento o presidente americano está em vantagem. Com a caneta mais poderosa do mundo em suas mãos, e afinado com setores estratégicos como o complexo industrial-militar e a indústria petrolífera, cujos laços foram reforçados pelo recente périplo no Oriente Médio, Trump se mantém na ofensiva. Além disso, deve contar (até que a vaca afunde no brejo) com o apoio de grandes da big-tech, como Jeff Bezos e Mark Zuckerberg, algo dispostos a ocupar o vácuo deixado por Musk. Assim, por hora, Trump mostra que o poder político ainda precede sobre o econômico, permitindo enxergar que, ao contrário do que afirmam os (neo)liberais, capitalismo e Estado estão sempre juntos, como unha e carne.

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Renata Medeiros — Mestre em ciência política, advogada;
Lier Pires Ferreira
— PhD em Direito (UERJ). Pesquisador do NuBRICS/UFF.