Manifestações realizadas neste domingo (14) em diversas cidades do Brasil reacenderam a mobilização de rua contra a proposta de anistia e contra o projeto de lei da dosimetria, aprovado recentemente pela Câmara dos Deputados. Os atos, articulados por movimentos sociais, partidos de esquerda, centrais sindicais, artistas e parlamentares, tiveram forte presença de público e sinalizaram crescimento em relação às mobilizações anteriores, especialmente nas capitais do Sudeste.
No Rio de Janeiro, a Praia de Copacabana voltou a se transformar em palco político e cultural. O ato, iniciado no posto 5, reuniu milhares de pessoas e contou com apresentações e discursos de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Paulinho da Viola, além de artistas da nova geração. A presença de figuras simbólicas da música brasileira deu ao protesto um tom semelhante ao do grande ato musical realizado em setembro, agora com público ainda mais expressivo e discurso mais direto contra o Congresso Nacional.
Em São Paulo, as imagens aéreas da Avenida Paulista indicaram uma das maiores concentrações do dia. A manifestação em frente ao Masp reuniu uma multidão ao longo da tarde e teve participação de lideranças políticas e sociais. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, classificou o projeto aprovado pela Câmara como uma “anistia disfarçada” e afirmou que a mobilização popular é uma resposta direta à tentativa de reduzir penas de envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Parlamentares como Erika Hilton também discursaram, defendendo a manutenção das condenações impostas pelo Supremo Tribunal Federal.
Conforme O Norte Online mostrou mais cedo, a Paraíba também entrou no mapa das mobilizações. Em João Pessoa, o ato realizado na região do busto de Tamandaré e da orla de Tambaú reuniu um público considerado expressivo por organizadores e participantes. As manifestações tiveram como alvo central o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), citado em discursos e faixas como símbolo da condução do projeto da dosimetria e da resistência do Congresso às decisões do STF.
Em Brasília, manifestantes se concentraram na região central da capital e seguiram em passeata até o Congresso Nacional. As palavras de ordem e cartazes foram marcados por críticas diretas a Hugo Motta e ao Legislativo, rotulado por grupos como “inimigo do povo”. A Polícia Militar do Distrito Federal não divulgou estimativa oficial de público.
Atos também foram registrados em capitais como Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Salvador, Maceió, Belém, Porto Velho, Rio Branco e Goiânia, ao longo do dia. Em algumas cidades, as manifestações ocorreram pela manhã; em outras, se estenderam até o fim da tarde, reforçando o caráter nacional da mobilização.
Os protestos ocorreram quatro dias após a Câmara aprovar, durante a madrugada, o projeto de lei da dosimetria, por 291 votos a 148. A proposta, que reduz penas de condenados por crimes ligados à tentativa de golpe de Estado, segue agora para análise do Senado. Governistas avaliam que a pressão das ruas tende a aumentar o custo político de qualquer avanço em pautas que possam ser interpretadas como anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos.