sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Inteligência Artificial nas escolas: promessa de revolução ou experimento arriscado?
09/07/2025 10:32
Redação ON Reprodução

A inteligência artificial já está em celulares, carros, escritórios — e agora começa a ganhar espaço também nas salas de aula. Grandes empresas de tecnologia, como Microsoft e OpenAI, têm investido pesadamente para inserir seus sistemas de IA no cotidiano educacional. O objetivo declarado é ajudar professores com tarefas como correção de provas, planejamento de aulas e elaboração de cartas de recomendação. Mas críticos alertam: faltam evidências de que os chatbots realmente melhorem a aprendizagem.

Em reportagem recente do New York Times, a jornalista Evan Gorelick expôs como os alunos americanos estão se tornando cobaias involuntárias de um experimento nacional com inteligência artificial nas escolas.

Expansão acelerada

Depois de anos de hesitação, as escolas dos Estados Unidos passaram a adotar o uso de IA de forma mais incisiva. Segundo uma pesquisa nacional citada pelo NYT, quase metade dos distritos escolares americanos treinou professores no uso de IA em 2023 — o dobro do ano anterior.

O movimento envolve tanto escolas públicas quanto universidades. Em Kelso, no estado de Washington, estudantes do ensino médio usaram o Gemini, chatbot da Google, para pesquisas e redações. Em Newark, uma ferramenta desenvolvida pela Khan Academy tem ajudado professores a organizar alunos por nível de habilidade e responder dúvidas em tempo real.

Na educação superior, o avanço é ainda mais ousado. O sistema de universidades públicas da Califórnia, a California State University, assinou um contrato de US$ 17 milhões com a OpenAI para dar acesso ao ChatGPT a seus mais de 460 mil alunos — apesar dos cortes orçamentários enfrentados. Já instituições como Duke e Maryland desenvolvem seus próprios bots para editar textos e ajudar na programação de códigos.

Promessa conhecida, tecnologia nova

A narrativa não é nova. Desde os anos 2000, quando laptops foram vendidos como solução para os problemas da educação, o setor de tecnologia aposta na promessa de “modernização do ensino”. Agora, os chatbots ocupam esse lugar. A lógica é simples: ao preparar os alunos para lidar com ferramentas do futuro, evita-se que fiquem para trás no mercado de trabalho.

“Não quero que meus filhos sejam deixados para trás” é a frase que a executiva Vicki Zubovic, da Khan Academy, diz ouvir com mais frequência dos pais e responsáveis.

O próprio governo americano entrou no jogo. Em abril, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva determinando a integração da inteligência artificial em todos os níveis do sistema educacional, com a justificativa de manter os Estados Unidos na vanguarda da tecnologia global.

Falta comprovação de resultados

Apesar do entusiasmo e das cifras bilionárias envolvidas, há poucas evidências de que a IA, de fato, melhore o aprendizado. Muitas escolas utilizam os chatbots apenas como buscadores mais sofisticados — e há relatos crescentes de alunos usando IA para trapacear em redações ou simular respostas.

Julia Kaufman, pesquisadora da RAND Corporation, ouvida pelo NYT, afirma que ainda é “difícil saber” se a tecnologia está ajudando. Segundo ela, faltam estudos sistemáticos e dados concretos sobre os impactos da IA na performance dos estudantes.

O histórico com tecnologias educacionais inspira cautela. No passado, a introdução de laptops nas salas de aula teve efeitos modestos, com melhorias pontuais em escrita e ciências. Mesmo assim, os ganhos estavam condicionados ao engajamento dos professores e a reformas no currículo — e ficaram abaixo de políticas como redução do número de alunos por turma ou contratação de tutores presenciais.

Um experimento de longo prazo

Mais do que uma ferramenta, a IA está moldando a forma como jovens interagem com o conhecimento — e como compartilham seus dados com grandes corporações. Os efeitos reais desse experimento educacional só serão conhecidos com o tempo. Até lá, alunos, professores e gestores seguirão tateando no escuro entre promessas de futuro e incertezas sobre o presente.

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