sábado, 13 de dezembro de 2025
Guerra comercial com os EUA: saiba  por que até o seu Pix está ameaçado
16/07/2025 10:14
Redação ON Reprodução

Empresários brasileiros deixaram claro ao governo federal, em reuniões esta semana, que preferem um caminho de conciliação com os Estados Unidos. Mas a pressão americana sobre o Brasil se intensifica, e o alvo da vez – dentre tantos outros – é um símbolo de inovação tecnológica e soberania financeira: o Pix. O sistema de transferências instantâneas, gratuito e acessível, virou uma ameaça ao domínio financeiro das plataformas estrangeiras e está no centro de uma disputa que mistura economia, geopolítica e poder.

Mais do que um sistema de pagamentos, o Pix representa um modelo autônomo de soluções digitais criadas por um banco central de país emergente — e que deu certo. Desde seu lançamento, o sistema tem reduzido o uso de cartões de crédito, movimentado pequenos negócios, democratizado o acesso bancário e até minado a hegemonia de grandes empresas financeiras internacionais.

Para os EUA, isso significa concorrência. Plataformas como PayPal, Stripe, Visa e Mastercard — todas gigantes americanas — perdem espaço à medida que o Pix ganha adesão. Há também um pano de fundo mais amplo: a ascensão de soluções locais de pagamento é vista como parte da desconexão dos países emergentes de sistemas financeiros globalizados sob influência americana.

Como nasceu o Pix

Apesar de ter sido lançado em novembro de 2020, durante o governo Bolsonaro, o Pix começou a ser gestado em 2018, ainda na gestão de Michel Temer, sob coordenação do Banco Central. Foi uma resposta à necessidade de baratear e agilizar as transações financeiras em um país onde bancarizar a população sempre foi um desafio.

A equipe técnica liderada pelo então presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, iniciou o projeto. No governo seguinte, Roberto Campos Neto deu continuidade e concluiu a implementação. Bolsonaro, porém, chegou a declarar que “criou o Pix”, tentando capitalizar politicamente sobre uma criação que não foi sua.

O Pix permite transferências instantâneas, 24 horas por dia, sem tarifas para pessoas físicas. Em segundos, dinheiro muda de mãos sem a intermediação de bancos ou operadoras de cartão. Seu modelo já foi elogiado por autoridades monetárias de diversos países e até copiado parcialmente em lugares como Índia e Colômbia.

Esse sucesso chamou atenção — e gerou desconforto. O Pix foge dos padrões de controle tradicionais dos EUA, que preferem sistemas operados por corporações privadas, onde há dados, taxas e influência geopolítica em jogo.

A ofensiva americana

Relatos recentes dão conta de que o sistema de pagamentos brasileiro foi mencionado em reuniões de alto nível como uma prática “anticoncorrencial”. O Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), chefiado por aliados de Donald Trump, investiga o Brasil com base na Seção 301 da Lei Comercial americana — a mesma usada contra a China.

O argumento seria que o Brasil impõe barreiras a empresas americanas do setor financeiro e de tecnologia — como Google Pay, Apple Pay e PayPal — ao privilegiar o PIX. Na prática, é como se estivessem dizendo que o Brasil não deveria usar um sistema próprio e gratuito se isso atrapalha os lucros das big techs americanas.

O que você tem a ver com isso?

O Pix acende um alerta. Se os EUA conseguirem impor barreiras, sanções ou até condicionar acordos à limitação do sistema, os brasileiros podem perder acesso a um serviço que hoje é gratuito, universal e eficiente. O risco não é de que o Pix acabe, mas que ele seja restringido ou desacelerado, enfraquecendo sua capacidade de inclusão.

Em resumo, o Pix não é apenas um aplicativo de transferência — é um marco da autonomia digital do Brasil. O desconforto dos Estados Unidos revela como a soberania tecnológica pode provocar disputas intensas, até mesmo entre nações aliadas. Proteger o Pix é, em última instância, proteger o direito dos brasileiros a um sistema financeiro mais acessível e menos dependente de interesses estrangeiros.

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