O secretário de Saúde da Paraíba, Ari Reis, afirmou nesta segunda-feira (19) que a rede pública estadual não permitirá o atendimento médico a bonecos reborn, réplicas hiper-realistas de recém-nascidos que vêm sendo tratados por alguns adultos como filhos. “A rede não está preparada para esse tipo de situação. Temos outras prioridades, como a reforma do Hospital de Trauma e o cuidado com crianças reais que adoecem de gripe”, disse o secretário, em entrevista à Rádio Correio-FM. Ele afirmou ainda que, caso alguém procure atendimento com um boneco, será encaminhado para o setor de saúde mental, e não pediatria.
O posicionamento do governo estadual ocorre em meio a uma onda de casos inusitados que ganharam repercussão nacional nas últimas semanas, envolvendo o fenômeno dos “bebês reborn”. Criados inicialmente como peças artísticas, os bonecos acabaram ultrapassando a proposta original e viraram válvula de escape para traumas emocionais. Especialistas afirmam que muitas pessoas — sobretudo mulheres que perderam filhos, pais que não conseguiram ter crianças ou pessoas solitárias — acabam desenvolvendo laços profundos com os bonecos, tratando-os como filhos: dão banho, vestem, alimentam, colocam para dormir e até os levam ao pediatra.
Casos bizarros
Um dos casos que mais chamaram atenção foi o de Yasmin Becker, de 17 anos, em Janaúba (MG), que levou seu boneco reborn chamado Bento a uma unidade do SUS alegando que ele estava com febre. O atendimento foi registrado em vídeos e fotos que viralizaram nas redes sociais, gerando críticas e perplexidade. O episódio levou o deputado estadual Cristiano Caporesso (PL-MG) a apresentar o projeto de lei 3.757/2025, que proíbe expressamente o atendimento a bonecos reborn no sistema público de saúde. A proposta prevê multa de até 10 vezes o valor do serviço, revertida ao tratamento de transtornos mentais.
Outro caso que ganhou notoriedade aconteceu em Goiânia, onde um casal entrou na Justiça disputando a “guarda” de uma boneca reborn após o fim do relacionamento. Além do vínculo emocional, o impasse envolvia um perfil monetizado nas redes sociais criado para a boneca e a divisão de custos com enxoval e cuidados. A advogada envolvida no caso afirmou que, juridicamente, a guarda não pode ser estabelecida, mas o perfil digital pode ser considerado um ativo passível de análise judicial.
Diante da popularização do fenômeno e dos limites cada vez mais tênues entre afeto e delírio, autoridades começam a se posicionar. Na Paraíba, a mensagem é clara: recursos públicos devem atender demandas reais da população — com crianças de verdade.