Os governadores e governadoras do Nordeste divulgaram, nesta sexta-feira (29), uma nota conjunta em resposta às declarações do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Em entrevista, Zema afirmou que estados mais pobres são sustentados pelos mais ricos e defendeu o fim do “assistencialismo”.
No texto, os gestores nordestinos consideram que as falas de Zema reforçam preconceitos históricos e distorcem a realidade sobre o pacto federativo. “Reafirmamos nosso repúdio a toda forma de racismo, xenofobia e estigmatização regional. O Nordeste não aceitará ser transformado em bode expiatório de disputas eleitorais. Nossa cidadania é indivisível e exige respeito, com políticas públicas baseadas em dados e evidências, não em preconceitos e estereótipos”, diz a nota.
Os números desmentem Zema
Os governadores lembram que a maior parte dos recursos nacionais continua concentrada no eixo Sul-Sudeste. Em 2024, o BNDES desembolsou R$ 133,7 bilhões, dos quais 73% ficaram no Sul e no Sudeste. Minas Gerais, sozinho, recebeu R$ 12,7 bilhões, sendo o quarto estado mais beneficiado.
O mesmo se repete com os Gastos Tributários federais. Em 2025, dos R$ 536,4 bilhões previstos em renúncia fiscal, R$ 345,5 bilhões (64%) se concentram no Sudeste e no Sul. Já o Nordeste ficará com R$ 79,3 bilhões. Quanto às dívidas estaduais, 92% de todo o passivo de R$ 827 bilhões pertencem a estados do Sul e do Sudeste, contra apenas 3% do Nordeste.
Justiça histórica
Para os gestores, o discurso de que o Nordeste “vive de subsídios” ignora as desigualdades acumuladas ao longo da história, quando o Estado brasileiro privilegiou Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro em ciclos como o do ouro, do café e da industrialização.
O Nordeste, afirmam, nunca reivindicou “esmolas”, mas sim políticas de desenvolvimento que reconheçam suas potencialidades e compensem a concentração histórica de infraestrutura, crédito e capital humano no Centro-Sul.
Políticas sociais como motor econômico
Os governadores também defenderam programas como Bolsa Família, BPC e Garantia Safra, considerados instrumentos essenciais de combate às desigualdades. Para eles, essas políticas não representam dependência, mas sim alavancas econômicas que dinamizam o comércio, fortalecem a agricultura familiar e aumentam a arrecadação local.
Cooperação, não hostilidade
“O que está em jogo é a compreensão do desenvolvimento. Transformar diferenças econômicas em hierarquias morais de regiões e de pessoas é oportunismo eleitoral que fragiliza o Brasil”, afirma a nota.
Os gestores reforçam o compromisso com crédito para o desenvolvimento, avaliação criteriosa de incentivos fiscais e a cooperação em cadeias estratégicas como energias renováveis, logística, saúde e tecnologia. “A Federação é um pacto de solidariedade, não de hostilidade”, concluem.