- Por José Nunes
Quando publiquei minha primeira crônica em O Norte no mês de fevereiro de 1975, e tempos depois fiz da redação deste jornal o espaço para acomodar minha ansiedade de agricultor que andava pela cidade como um pastor de sonhos, atuando como copiador de telegramas até sair para caminhadas em outros terrenos. Anos mais tarde voltava ao O Norte para compor seu quadro de redatores.
Ainda dando os primeiros passos na redação deste jornal, foi quando Marcondes Brito e eu iniciamos uma amizade que nada cobrava, alimentada pelos fluídos que emanam das redações. Iniciando uma vida nova a partir da família que constituíra em janeiro de 1981, carente de uma casa para morar, este cedeu imóvel recém adquirido, sem custos para mim.
Nesta época nossa amizade estava firmada na troca recíproca de camaradagem alimentada por gestos no interesse do bem servir e na perspectiva de produzir um bom jornal.
Conduzido por sonhos profissionais, Marcondes passou a ocupar espaços em lugares onde somente os astutos conseguem avançar com projetos profissionais.
Voltamos a nos encontrar na mesma redação do velho jornal onde estivemos em décadas no final do século vinte. Ele na gestão administrativa do empreendimento dos Diários Associados e eu, com gestos de pastor camponês a semear os grãos na terra fértil das letras. Revivemos a ansiedade de elevar a imprensa paraibana ao degrau superior dos melhores jornais do Nordeste.
Mas o destino levou nossos sonhos para outros caminhos, o jornal definhou, com seu majestoso prédio se transformando em gueto para depósito humano. Ficou o registro da História que construímos nas páginas de O Norte.
Marcondes Brito agora reagrupa alguns de seus pupilos para um novo projeto, não mais em jornal impresso, nosso grande sonho, esse que perpetua a história em papel e tinta, mas online. Sem tanto merecimento, ele oferece espaço para acalentar minhas ideias. Mais uma vez oferecendo o recanto onde recostar minha cabeça, como aconteceu décadas atrás, sendo que agora é a escrita que é acolhida. Não mais o jovem recém-casado, mas alguém que carrega o peso de alguns livros públicos e a glória imerecida da imortalidade das letras.
Escrevendo semanalmente neste espaço, quem ganha sou eu porque terei um ambiente de jornal online privilegiado para depositar minhas quimeras, sentindo a mesma alegria de quando publiquei a minha primeira crônica. Se acrescenta alguma coisa ao projeto dele, não sei. O importante é que aqui estou sentindo as mesmas emoções, agradecido pelas dádivas recebidas sem tanto merecimento.
- José Nunes é diácono, jornalista e membro da Academia Paraibana de Letras (APL)