sábado, 13 de dezembro de 2025
A CARTA DE INDIRA…
11/08/2025

Hoje, eu me encontrei pensando em um enorme fichário que a gente tinha quando eu era criança, que guardava recortes de jornais com textos escritos pelo meu pai. Alguns já bem amarelados, outros ainda naquele tom cinza e cheiro forte de tinta que acabei por associar ao meu pai. Entre elas, a denúncia da morte de Margarida Maria Alves, acontecimento que mexeu no curso da minha família e marcou a vida do meu pai, de modo que eu nem era nascida, mas associo o nome dela a ele sempre que ele surge.

Lembrei das dezenas de vezes que visitei a redação dos jornais A União e O Norte, onde eu, que morro de orgulho do nome que meu pai me deu, era conhecida como a filha de Zé Euflávio. Recordo a enorme máquina de prensa na frente do prédio, que meu pai me explicou ser como os primeiros jornais eram feitos. Guardo ainda o cheiro das minhas mãos marcadas de tinta de um jornal ainda quente. Das máquinas datilográficas que foram sendo substituídas pelos computadores, das minhas tentativas emboladas de datilografar rápido como as pessoas da redação.

Painho foi minha porta e meu portal ao mundo das palavras. Juntos, lemos García Márquez, Saramago e Jorge Luis Borges. Sozinhos, viajamos por livros que ele me indicava e eu acabava por não devolver. Juntos, escrevemos minhas tarefas da primeira série. Separados, escrevemos crônicas, contos, matérias e livros.

A primeira palavra que meu pai me deu foi meu nome, quando ele leu sobre Indira Gandhi e achou melhor que Marina, o nome que eu iria receber até então. A última, eu espero que não chegue tão cedo, mas, quando chegar, viveremos sempre juntos pela palavra.

Feliz aniversário, Pai 💜

Indira Petit é minha filha

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Zé Euflávio
Zé Euflávio

Zé Euflávio é um dos jornalistas mais respeitados da Paraíba, com passagens também pelo Correio Braziliense.