Arthur Lira, ex-presidente da Câmara, decidiu agir como bombeiro na crise entre Congresso e Planalto após a queda do aumento do IOF — mas sua movimentação levanta uma pergunta inevitável: quem comanda, de fato, a Câmara dos Deputados? Hugo Motta é o presidente formal, eleito com apoio de Lira, mas o próprio Lira ainda parece ditar o ritmo da casa. Se o ex-presidente sugere um “passo atrás”, a dúvida é: o atual vai obedecer?
O episódio do IOF deixou marcas. De um lado, o governo tenta emplacar a narrativa de “justiça tributária” — e, certo ou errado, conseguiu furar a bolha da esquerda. A oposição entendeu o recado e também recuou estrategicamente. Parlamentares do entorno de Lira avaliam que não vale a pena queimar um ano e meio de mandato de dois aliados — Hugo Motta na Câmara e Davi Alcolumbre no Senado — numa guerra sem trégua contra Lula. A ideia é recalcular mais à frente.
Em meio ao calor da crise, Lira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passaram mais de uma hora ao telefone. Um em Lisboa, no Fórum organizado por Gilmar Mendes; o outro, em Buenos Aires. O tom foi amistoso, mas direto. Lira cobrou: “Vocês também precisam recuar. Não dá para continuar nesse embate de rede social, nesse estica-e-puxa constante. Há pessoas leais sendo expostas desnecessariamente.”
A avaliação é que o problema do IOF não foi o conteúdo em si, mas a falta de comunicação clara com o Palácio do Planalto. Para Lira, esse desgaste já teve seu tempo, já foi lido e agora precisa ser superado.
No entanto, o que permanece no ar é a real extensão do poder de Hugo Motta. Ele foi ungido por Lira, sim, mas até onde vai sua autonomia? Ele está disposto a bancar confrontos diretos com o Planalto, ou seguirá a cartilha do seu padrinho político?
Essa crise, mais do que sobre o IOF, parece ter revelado a verdadeira disputa de comando no Congresso. E, por ora, o controle da Câmara ainda parece ter endereço certo — mesmo que fora da cadeira presidencial.