A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de vetar o projeto que aumentava o número de deputados federais no Brasil provocou uma onda de repercussões no Congresso Nacional — mas foi na Paraíba que o impacto se tornou mais visível e contraditório.
A proposta, já aprovada pela Câmara e pelo Senado, previa a ampliação do número de cadeiras na Câmara dos Deputados de 513 para 531, com base na atualização demográfica do Censo 2022. A medida atenderia principalmente estados com crescimento populacional acima da média nacional. A Paraíba, porém, ficaria fora da redistribuição positiva e sofreria uma consequência grave: perderia duas cadeiras no Congresso e seis cadeiras na Assembleia Legislativa, devido ao chamado “efeito cascata”.
Alinhados e trocados
A reação mais emblemática no estado veio de Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) e aliado histórico de Lula. Ele surpreendeu ao se posicionar duramente contra a decisão do presidente. Segundo Galdino, além da perda de representatividade no Legislativo estadual, o estado deixará de receber mais de R$ 200 milhões por ano em emendas parlamentares — recursos que ajudam a financiar obras, ações sociais e serviços em centenas de municípios paraibanos.
“É uma medida que, na prática, retira da Paraíba força política e recursos fundamentais. Vamos lutar para reverter esse quadro”, declarou Galdino, em entrevista recente.
Do outro lado do tabuleiro político, o deputado federal Cabo Gilberto (PL), bolsonarista declarado e único parlamentar da bancada paraibana a votar contra o aumento do número de deputados, agora se vê alinhado — ao menos neste tema — com a posição de Lula. Um paradoxo que ilustra bem a reconfiguração momentânea do jogo político.
Congresso recua
No Congresso Nacional, a decisão de Lula causou desconforto, especialmente entre líderes do Centrão, que viam no aumento do número de cadeiras uma chance de acomodar mais aliados e fortalecer suas bancadas. No entanto, diante da forte rejeição popular — uma pesquisa Quaest divulgada nesta semana apontou que 85% da população é contra o aumento — os parlamentares optaram por não comprar essa briga agora.
Com o recesso parlamentar às portas, líderes avaliam que não há tempo hábil nem clima político para tentar derrubar o veto. Alguns veem no pacote de R$ 30 bilhões aprovado nos últimos dias uma possível retaliação silenciosa ao Planalto — um lembrete de que o Congresso ainda tem suas cartas na manga.