A política monetária dos Estados Unidos entrou em terreno inexplorado. O presidente Donald Trump anunciou nesta segunda-feira (25) que demitiu Lisa Cook, diretora do Federal Reserve, numa decisão sem precedentes em 111 anos de história do banco central americano.
Cook, porém, rebateu imediatamente: disse que Trump não tem “autoridade” para afastá-la e garantiu que seguirá no cargo. Pela legislação, um integrante do conselho do Fed só pode ser removido por “justa causa” — conceito ainda pouco definido juridicamente e que deverá ser contestado nos tribunais, possivelmente até na Suprema Corte.
O estopim para a decisão foi uma acusação de fraude hipotecária envolvendo Cook, levantada por um diretor do setor de financiamento habitacional e que agora será investigada pelo Departamento de Justiça. Trump afirmou, em carta divulgada nas redes sociais, que a economista demonstrou “conduta enganosa e potencialmente criminosa”, o que, segundo ele, comprometeria sua integridade como reguladora financeira.
Lisa Cook nega as acusações e afirmou, em comunicado recente, que não será “intimidada” a renunciar. A economista acrescentou que está reunindo documentação para esclarecer eventuais dúvidas sobre seu histórico financeiro.
O caso ocorre a menos de um mês da próxima reunião de política monetária do Fed, marcada para 16 e 17 de setembro, e levanta dúvidas sobre a independência da instituição. Criado justamente para ser blindado de pressões políticas, o banco central é responsável por equilibrar inflação e emprego, o que frequentemente contraria interesses imediatos de governos.
Economistas alertam que a tentativa de Trump pode abalar a credibilidade do Fed e gerar impactos no mercado global, com queda do dólar e exigência de juros mais altos para financiar a dívida americana. “O Fed foi desenhado para ser independente, por ótimas razões. Transformá-lo em braço da Casa Branca seria desastroso para a política monetária”, avaliou Alan Blinder, ex-vice-presidente da instituição.
A reação política também foi dura. A senadora Elizabeth Warren classificou a medida como “uma tomada de poder autoritária” e defendeu que a Justiça anule a decisão presidencial.
Seja qual for o desfecho, a disputa entre Trump e Cook já expõe uma batalha inédita que ameaça a autonomia do banco central mais influente do mundo.