Sob o título “Hands off”, que numa tradução livre significa “Não se meta” ou “Fique fora disso”, o jornal The New York Times falou da postura do Brasil, ante as ameaças do governo Trump. A reportagem, publicada nesta segunda-feira (28) – assinada pelo correspondente no Brasil Jack Nicas – aborda o debate sobre soberania nacional nas Américas, onde Trump está tentando interferir sem o menor pudor. Veja o texto do NY Times a seguir:
Em meio a sua cruzada por influência internacional, o ex-presidente e agora novamente mandatário dos Estados Unidos, Donald Trump, fez emergir um tema que parecia pacificado entre as maiores nações do hemisfério ocidental: a soberania.
Líderes de países como México, Canadá, Colômbia, Panamá e Brasil têm se sentido obrigados a reafirmar um princípio básico do direito internacional — o de que governam nações autônomas, livres para decidir seus rumos. Isso porque Trump, com seu estilo impositivo, tem pressionado esses governos a se alinharem aos interesses norte-americanos, usando ameaças de tarifas, investigações comerciais e até demonstrações de força.
O estilo “manda quem pode”
Desde os tempos do reality show The Apprentice, Trump construiu sua imagem como alguém que comanda, cobra resultados e não aceita ser contrariado. Na política externa, não tem sido diferente. Em seu segundo mandato, adotou uma postura ainda mais agressiva, tentando impor sua vontade aos vizinhos americanos. A resposta tem sido uma onda de reafirmações de soberania, algumas com contornos dramáticos.
• México: A presidente Claudia Sheinbaum mencionou em dezenas de ocasiões que o México é uma nação soberana. “Não somos subordinados a ninguém”, disse ela, após críticas de Trump sobre imigração, tráfico de drogas e comércio.
• Canadá: Após Trump insinuar que o país deveria se tornar o “51º estado”, Mark Carney venceu a eleição canadense com a promessa de proteger o país da “ameaça à nossa soberania”.
• Panamá: Ao ouvir de Trump que os EUA deveriam “reaver” o Canal do Panamá, o presidente José Raúl Mulino reagiu com firmeza: “Nossa independência não está em negociação.”
• Colômbia: Diante da recusa do presidente Gustavo Petro em aceitar voos de deportação, Trump ameaçou impor tarifas de 50% às exportações colombianas. Petro rebateu: “Não aperto a mão de escravizadores brancos.”
• Brasil: A situação mais tensa talvez seja com o governo Lula. Trump ameaçou o país com tarifas se não fosse arquivado o processo contra Jair Bolsonaro — seu aliado ideológico — acusado de tentar um golpe após perder as eleições de 2022. Lula reagiu com discursos inflamados, reforçando o discurso de soberania e passou a ostentar um boné com os dizeres “O Brasil é dos brasileiros”. A Suprema Corte brasileira respondeu colocando Bolsonaro sob monitoramento eletrônico.
“Ele foi eleito para cuidar dos americanos. Os brasileiros sabem cuidar de si mesmos”, disse Lula.