O que era temor agora virou realidade. A partir da madrugada desta quarta-feira (6), entraram em vigor as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A medida, anunciada por Donald Trump no mês passado, coloca uma taxa de 50% sobre grande parte das exportações brasileiras ao mercado americano — exceto 694 itens que permanecem com uma tarifa de 10%.
A decisão foi oficializada como parte de um pacote global de tarifas que afetará também outros países, como Japão, Coreia do Sul e membros da União Europeia. Nenhum, porém, será atingido com uma alíquota tão alta quanto o Brasil.
O que muda a partir de hoje?
1. Exportar para os EUA ficou mais caro:
Qualquer produto brasileiro que não esteja na lista de exceções passa a pagar o dobro da tarifa anterior. Isso torna nossos produtos menos competitivos nos Estados Unidos.
2. Setores mais afetados sentem primeiro:
Indústrias que dependem fortemente das exportações para os EUA, como as de máquinas, autopeças, móveis e madeira reflorestada, já estão parando linhas de produção. Em Curiúva (PR), por exemplo, uma fábrica de molduras demitiu 23 dos seus 50 funcionários antes mesmo da medida começar a valer.
3. Empresas menores correm mais risco:
Pequenas e médias empresas, que têm menos fôlego para sobreviver sem vendas externas, serão as mais prejudicadas. Algumas podem encerrar atividades se não conseguirem redirecionar seus produtos para outros mercados rapidamente.
Por que Trump fez isso?
Segundo o presidente americano, o objetivo é “corrigir desequilíbrios históricos” na balança comercial dos EUA. Trump afirma que os Estados Unidos compram mais do que vendem para muitos países e que isso seria uma injustiça.
No caso do Brasil, no entanto, essa justificativa não se sustenta. Desde 2009, os americanos têm superávit na relação comercial com o Brasil — ou seja, vendem mais do que compram. No primeiro semestre de 2025, o saldo foi de US$ 1,674 bilhão favorável aos EUA.
Trump, na verdade, deu declarações públicas indicando que o tarifaço contra o Brasil é uma resposta política à situação do ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo de investigações no Supremo Tribunal Federal. Seria, portanto, uma espécie de retaliação disfarçada.
Qual o impacto na economia brasileira?
Depende de quem se olha:
• No PIB:
Segundo o banco UBS BB, o efeito no Produto Interno Bruto (PIB) pode chegar a 0,6 ponto percentual. O Goldman Sachs estima um impacto menor, de 0,25 ponto percentual.
• Para as empresas diretamente afetadas:
O efeito pode ser devastador. Algumas vendem exclusivamente para o mercado americano e não têm para onde correr. Perdem contratos, produção e empregos.
• Para o país como um todo:
O Brasil é um país com economia relativamente fechada, e a dependência das exportações é menor do que em outros países. Isso ajuda a amortecer o impacto macroeconômico.
O governo vai ajudar?
Sim, mas ainda há muitas dúvidas sobre como. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu:
• Linhas de crédito subsidiadas para empresas afetadas
• Compras governamentais emergenciais
• Medidas fiscais com impacto controlado
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já entregou ao governo um pacote de 8 pedidos, entre eles:
• Linha de crédito do BNDES com juros de 1% a 4%
• Adiamento de impostos federais por 120 dias
• Reativação do Programa Seguro Emprego (PSE)
• Ampliação do prazo de liquidação de exportações
Nesta terça (5), o presidente Lula disse que o Brasil prepara um plano de contingência para proteger empresas e empregos. Também afirmou que poderá recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o que chamou de “ataque injusto”.
Lula vai conversar com Trump?
Ainda não. Na semana passada, Trump disse que “Lula pode ligar quando quiser”. Mas nesta terça, o presidente brasileiro respondeu:
“Não vou ligar para o Trump para conversar, não, porque ele não quer falar. Mas vou ligar para convidá-lo para a COP. Quero saber o que ele pensa sobre clima.”
A resposta tem um tom irônico. Trump é conhecido por negar a importância das mudanças climáticas — o que mostra que esse diálogo, ao menos por enquanto, parece improvável.
O que esperar agora?
• Nos próximos dias, é provável que novos anúncios de demissões e paralisações ocorram, principalmente em pequenas cidades com empresas exportadoras.
• O governo brasileiro precisará ser ágil para colocar em prática as medidas de suporte prometidas.