Texto:
A menos de quatro dias da entrada em vigor do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, o governo Lula e aliados no Congresso fazem um esforço final para tentar conter os danos. Com início previsto para esta sexta-feira (1º/8), a medida anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaça setores estratégicos da economia brasileira, como o de alimentos e o da indústria aeronáutica.
Na tentativa de reverter ou ao menos mitigar os impactos, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está em Nova York para participar de uma conferência da ONU sobre a guerra em Gaza, mas aproveitou a ocasião para procurar interlocutores da diplomacia norte-americana. Vieira se colocou à disposição para uma reunião com representantes do governo Trump, mas até agora não obteve retorno da Casa Branca.
Enquanto isso, uma comitiva de oito senadores brasileiros circula por Washington D.C. na tentativa de sensibilizar empresários e parlamentares dos EUA sobre os efeitos do aumento tarifário. Em reunião com a Câmara de Comércio Brasil-EUA, surgiu a ideia de enviar uma carta à Casa Branca solicitando o adiamento das tarifas. Mas, segundo o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), líder do grupo, o clima entre os empresários é de ceticismo.
Internamente, o governo brasileiro também tenta manobras de bastidores. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, tem mantido conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, na esperança de retirar alguns itens da lista da sobretaxa. Os esforços se concentram especialmente nos alimentos — como suco de laranja e café, produtos nos quais o Brasil é líder global de exportação — e nas aeronaves da Embraer, que dependem fortemente do mercado norte-americano.
Apesar das investidas diplomáticas, há um fator interno que joga contra os interesses do Brasil. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem afirmado publicamente que sua missão atual é impedir qualquer tipo de contato ou negociação entre os dois governos. Em suas palavras, ou há “anistia completa” para os acusados dos atos golpistas de 8 de janeiro, ou não há diálogo com os EUA.
Com o relógio correndo, o governo Lula tenta, ao menos, evitar um impacto em cadeia que afete o agronegócio e a indústria nacional. Mas até aqui, o silêncio da Casa Branca e a pressão de alas bolsonaristas indicam que a sobretaxa de Trump deverá mesmo entrar em vigor sem concessões — e o Brasil parece cada vez mais isolado nesse embate.