segunda-feira, 8 de dezembro de 2025
Rede clandestina de aborto e tráfico de remédios controlados é alvo de operação na Paraíba e em mais seis estados
08/12/2025 11:24
Da redação do ON com Ascom/Polícia Civil Ascom/Polícia Civil

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, em parceria com a Diretoria de Operações Integradas e de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública (DIOPI/Senasp), por meio do Projeto Impulse, inserido no Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (ENFOC/MJSP), desencadeou, na manhã desta segunda-feira, 8 de dezembro de 2025, a Operação Aurora. A operação acontece em João Pessoa, na Paraíba, e em mais seis estados.

A ação tem como objetivo desarticular uma organização criminosa interestadual especializada no tráfico de medicamentos controlados, com destaque para o Cytotec (Misoprostol), substância utilizada ilegalmente para a prática de aborto.

Além da comercialização ilícita, os integrantes do grupo também ofereciam orientações e suporte às usuárias quanto ao modo de administração do fármaco durante o procedimento abortivo, evidenciando uma estrutura criminosa articulada e com atuação ampla.

A operação é realizada de forma simultânea com o apoio de efetivos das Polícias Civis estaduais, alcançando os seguintes estados e municípios:

  • Paraíba: João Pessoa
  • Goiás: Goiânia e Valparaíso
  • Rio de Janeiro: Nova Iguaçu
  • Espírito Santo: Aracruz
  • Bahia: Irecê e Itaguaçu
  • Minas Gerais: Santos Dumont
  • Brasília: Distrito Federal

Entenda o caso: A partir do aborto realizado por um casal na cidade de Guaíba, RS, no dia 02/04/25, a Delegacia de Polícia da cidade passou a investigar as circunstâncias do fato.

A mulher que realizou o aborto chegou ao hospital regional com dores muito fortes e acabou expelido dois fetos.

Ouvida, a mulher informou que havia ingerido o medicamento misoprostol, que lhe fora vendido pela internet. Junto com os medicamentos, a jovem também teria contratado os serviços de assessoramento técnico no momento do aborto, o que seria feito de modo “on line” por “uma doutora”. Ocorre que, durante o procedimento, a pessoa que a estava orientando passou a demorar para responder, negligenciando a gestante e deixando-a sem assistência, cheia de dores.

Esclarecendo como chegou até este grupo, contou que, ao ter certeza da gravidez, passou a fazer pesquisas no tiktok sobre aborto e gestação indesejada, quando foi abordada por uma pessoa que lhe informou conhecer profissionais que poderiam ajudá-la “com segurança” a interromper a gestação.

A mulher entrou em contato com o número fornecido e a pessoa contatada revelou trabalhar ajudando mulheres a interromper gestações indesejadas.

Nesse momento, apresentou a tabela de preços do medicamento misoprostol, em que também constava o número de comprimidos necessários de acordo com a quantidade de semanas de gravidez.

Na sequência, a gestante foi adicionada num grupo de whatsapp denominado “Sinta-se acolhida”, cuja descrição sugeria um espaço para compartilhar sua experiência pós procedimento, incentivando outras mulheres que ainda estivessem na dúvida, mas advertindo que detalhes do momento do aborto e do preparo para o procedimento não deveriam ser publicados.

A gestante então adquiriu o procedimento e agendou a data para o procedimento com sua “doutora”, passando a agir conforme lhe era orientado.

Em dado momento, durante o processo, passou a ser negligenciada pela pessoa que lhe “assistia”, que demorava para responder. Não o suportando as dores, a grávida procurou atendimento médico, onde o os fetos acabaram sendo expelidos.

A partir de uma investigação telemática, a polícia identificou os administradores do grupo, os quais, segundo regras claras do próprio grupo, são os únicos autorizados a realizar a venda do produto Cytotec e acompanhar o procedimento abortivo.

Os investigados residem em diferentes estados da federação, com ramificação Na Paraíba, Goiás, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, e no Distrito Federal.

A primeira etapa da operação Aurora visa esclarecer a participação de cada um no esquema criminoso, bem como entender como funciona a dinâmica da organização e apurar de onde o medicamento está sendo desviado, já que se trata de droga de uso controlado, que só pode ser ministrada em hospitais, sendo vedada a comercialização em farmácia e afins.

Segundo a Delegada Karoline Calegari, que presidiu as investigações, mais de 250 mulheres faziam parte do grupo, inferindo-se que o lucro obtido pelo grupo possa ser expressivo.

A Operação Aurora, com importante apoio do Ministério da Justiça, demonstra a articulação das Polícias Civis do Brasil contra o narcotráfico; na defesa da integridade física das mulheres; e na proteção da vida, seja qual for a sua fase de desenvolvimento.

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