Nos Estados Unidos, a política não está apenas virando entretenimento — está virando sátira de ficção científica. Num programa de TV, a figura de Donald Trump aparece cercada por gráficos e um fundo espacial, com letras gigantes à la Star Wars: TRADE WARS. A piada visual é o ponto de partida para algo maior: a desmontagem cômica — e brilhante — da guerra comercial travada por Trump contra a China.
Mas por trás da risada, o que se revela é a lógica torta da política de tarifas americanas. E o humorista explica isso com o tipo de ironia que o brasileiro entende: quem quis dar uma lição no mundo, acabou dando um tiro no próprio pé.
“Eles compram menos, a gente compra mais. Adivinha quem vai sair perdendo?”
Uma das sacadas mais afiadas do humorista — que mistura informação e sarcasmo — é quando ele expõe o fato de que os americanos não exportam tanto quanto importam. A fala dele, adaptada ao nosso contexto, seria algo como:
“É tipo aquele cara que ameaça a ex dizendo que vai parar de comprar as marmitas dela. Ela só ri, porque, no fundo, é ele quem depende da comida.”
A lógica do tarifaço era simples no papel: aumentar os impostos sobre produtos chineses, forçando um novo acordo. Mas, como o humorista mostra, isso só fez os preços subirem para o consumidor americano, que passou a pagar mais caro em tudo — de brinquedos a eletrônicos.
“Vamos punir a China… comprando nossos próprios produtos 40% mais caros!”
Outra piada certeira é quando ele aponta a contradição da política de Trump:
“O plano é punir a China tornando nossas compras mais caras. Tipo aquele cara que quebra o próprio celular no ciúmes — e depois fica chorando porque não pode mais pedir Uber.”
Ou seja, em vez de atingir diretamente a China, as tarifas viraram um castigo doméstico. As empresas americanas continuaram importando — mas repassaram o custo ao consumidor final.
“Reciprocidade? Boa sorte vendendo milho do Kansas em Pequim!”
O humorista também brinca com a ideia de reciprocidade comercial. Quando a China decidiu revidar e aplicar tarifas sobre produtos americanos, a piada foi inevitável:
“A China parou de comprar soja, milho… Os fazendeiros do Kansas quase entraram em colapso. Eles votaram no Trump achando que ele ia fazer a América grande de novo, não fazer a plantação sobrar no silo.”
A crítica aqui é dupla: mostra como o conflito afetou diretamente a base eleitoral rural de Trump e expõe o quanto os EUA estavam despreparados para sustentar a retaliação.
O brasileiro entende: “Se correr, o bicho come…”
A beleza (e a dor) dessas piadas é que elas são universais. O brasileiro entende bem esse jogo em que o governo toma decisões que, em tese, protegem o país — mas que, no fim das contas, pesam no bolso da população.
Se no Brasil o meme seria “vamos taxar o iPhone pra valorizar o nacional”, nos EUA virou “vamos taxar tudo pra proteger o americano — e fazer ele pagar mais caro por isso”.