Mais um episódio de exibicionismo gratuito mancha a imagem da política brasileira. Desta vez, o protagonista é o prefeito de Canhoba, em Sergipe, Chrystophe Divino (União Brasil), que resolveu comemorar seus 40 anos com um ensaio fotográfico publicado nas redes sociais. O detalhe: as imagens mostram o gestor apenas de cueca, em poses que vão da cama ao livro “Cinquenta Tons de Cinza”.

É inacreditável que um prefeito, no exercício do cargo, reduza o espaço de trabalho e de representação da população a palco de espetáculo pessoal. Não se trata de liberdade individual, mas de decoro e responsabilidade pública. Um gabinete não é camarim, nem as redes sociais de um prefeito deveriam servir de vitrine para vaidades que pouco têm a ver com gestão.

Esse caso inevitavelmente remete ao episódio recente da prefeita de Marituba, no Pará, que viralizou ao aparecer de biquíni em vídeo dançando. À época, já se discutia o limite entre vida pessoal e imagem institucional. Agora, a cena se repete de forma ainda mais explícita, expondo um poder que deveria ser símbolo de seriedade ao ridículo de um strip-tease virtual.

Décadas atrás, Erasmo Carlos já cantava na Jovem Guarda: “Vou acabar ficando nu pra chamar sua atenção”. A diferença é que, naquela canção, tratava-se de um amor não correspondido, um recurso desesperado para conquistar alguém. Hoje, em pleno século XXI, temos prefeitos literalmente encenando essa letra, não por paixão, mas para alimentar curtidas e comentários nas redes sociais.

É lamentável que o cargo público, que exige respeito, sobriedade e dedicação, seja reduzido a performance para holofotes digitais. A política já enfrenta desconfiança e descrédito suficientes para ainda ser usada como passarela de exibicionismo. E quem se dispõe a esse papel mostra claramente que não compreendeu o peso da função que exerce.