Pode até parecer improvável, mas nomes conhecidos do mapa paraibano — Piancó, Patos, Monteiro e Sumé — estão no radar de uma das disputas mais estratégicas do planeta: a corrida pelas chamadas “terras raras”. Esses minerais, essenciais para a fabricação de carros elétricos, celulares, painéis solares e equipamentos militares, são hoje motivo de tensão entre as principais potências do mundo.
O Brasil possui reservas expressivas dessas substâncias, principalmente nos estados do Amazonas, Goiás, Bahia e Minas Gerais. Mas a Paraíba também entrou nesse mapa. Pesquisas recentes da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Serviço Geológico do Brasil (SGB) identificaram indícios promissores desses metais estratégicos em áreas do sertão e do cariri, especialmente nos municípios de Piancó, Patos, Monteiro e Sumé.
Ainda em fase de prospecção, essas descobertas colocam o estado dentro de um debate que vai muito além da mineração: o de como o Brasil pode se posicionar no epicentro de uma disputa global por tecnologia e influência geopolítica.
Entenda o que está em jogo na corrida mundial pelas terras raras
O interesse dos Estados Unidos nas terras raras brasileiras tem a ver com uma disputa que envolve poder econômico, inovação tecnológica e segurança nacional.
O que são as terras raras
Apesar do nome, elas não são realmente raras. O termo designa um grupo de 17 elementos químicos com propriedades magnéticas, luminosas e condutoras únicas. São minérios de alto valor estratégico porque, mesmo em pequenas quantidades, tornam possível o funcionamento de praticamente toda a tecnologia moderna.
Estão presentes em motores de carros elétricos, turbinas eólicas, baterias de longa duração, telas de LED, painéis solares, satélites e sistemas de mísseis. Em outras palavras: sem terras raras, o mundo digital e sustentável simplesmente para.
O monopólio chinês
Hoje, a China domina quase toda a cadeia global de produção e refino de terras raras. O país não apenas concentra grandes reservas, como detém a tecnologia de separação química e transformação do minério em metais utilizáveis pela indústria.
Cerca de 60% a 90% de todo o refino mundial ocorre em território chinês. Isso dá a Pequim um poder estratégico enorme: controlar preços, limitar exportações e usar o fornecimento como instrumento político.
Quando há atritos diplomáticos, Pequim ameaça restringir o acesso desses materiais — e o simples risco já causa turbulência em bolsas e cadeias produtivas.
A vulnerabilidade dos Estados Unidos
Os Estados Unidos, que já lideraram o mercado de terras raras, tornaram-se dependentes da China após fecharem suas minas nas últimas décadas. Essa dependência é hoje tratada como um risco de segurança nacional.
Se houver uma crise diplomática ou um embargo, fábricas americanas de veículos elétricos, empresas de semicondutores e até a indústria militar podem ficar paralisadas.
É por isso que Washington busca novos parceiros estratégicos — países que combinem estabilidade política, potencial mineral e boas relações diplomáticas.
O papel do Brasil
Nesse cenário, o Brasil surge como um parceiro natural. O país tem a terceira maior reserva mundial de terras raras e é considerado geopoliticamente confiável, o que o torna ideal para os planos americanos de “desconcentração” da cadeia global dominada pela China.
O objetivo dos Estados Unidos não é apenas importar minério bruto, mas investir no Brasil para criar uma cadeia completa de extração, refino e produção — tudo fora da influência chinesa.
Além de garantir suprimentos estratégicos, isso permitiria aos EUA fortalecer o vínculo econômico e tecnológico com a América do Sul e reforçar sua posição frente à Ásia.
Por que as terras raras valem tanto
Esses metais têm papel central na chamada “nova economia verde”. Eles são usados em tudo que representa o futuro:
- motores de carros elétricos;
- turbinas eólicas e geradores de energia limpa;
- baterias de longa duração;
- equipamentos de comunicação e defesa;
- chips e sensores de alta precisão;
- e até em tecnologias espaciais e quânticas.
Em termos práticos, as terras raras são o elo entre a sustentabilidade ambiental e o avanço tecnológico. Por isso, seu valor vai muito além do preço por tonelada: trata-se de poder, autonomia e soberania tecnológica.
A disputa por poder
O que está em jogo, no fundo, é quem controlará a infraestrutura tecnológica do século XXI. A China quer manter sua hegemonia industrial; os Estados Unidos tentam reconstruir sua independência. O Brasil — e suas reservas minerais — entram no meio desse tabuleiro, com potencial de se tornar peça-chave.
Em tempos de tensão global, as terras raras deixaram de ser apenas minerais. Tornaram-se instrumentos de poder, capazes de aproximar ou afastar potências, redefinir alianças e alterar o equilíbrio econômico mundial.
Conclusão
A corrida pelas terras raras é uma corrida pelo futuro. E o Brasil, com suas imensas reservas, está no centro desse tabuleiro estratégico que envolve energia, defesa e tecnologia.
Ao mesmo tempo em que o mundo tenta reduzir a dependência da China, os Estados Unidos olham para a América do Sul como o território onde se pode equilibrar o jogo.
No meio disso tudo, o que parecia um tema distante da vida cotidiana — metais escondidos no subsolo — passou a definir o rumo da economia global.