O presidente da Caixa Econômica Federal, o paraibano Carlos Vieira, foi convocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para dar explicações sobre o lançamento da plataforma própria de apostas esportivas da instituição. O encontro deve ocorrer logo após o retorno de Lula da viagem à Ásia e promete tensões dentro do governo.
A iniciativa da Caixa, que pretende entrar no mercado de apostas esportivas com sua própria plataforma, pegou o Planalto de surpresa. Embora a medida siga todos os trâmites legais e esteja amparada pela Lei 14.790/2023 — criada no próprio governo Lula para regulamentar as chamadas apostas de quota fixa —, o presidente manifestou desconforto com a ideia de uma estatal operando diretamente nesse setor.
Carlos Vieira, nome de confiança do Centrão e figura próxima do presidente da Câmara, Arthur Lira, assumiu a Caixa com a missão de fortalecer a presença social e institucional do banco. Mas o novo projeto o colocou no centro de um debate político e moral que divide o governo: de um lado, técnicos que defendem a legalidade da iniciativa; de outro, setores ideológicos do PT que associam as bets a jogos de azar e vício.
Segundo o advogado Felipe Crisafulli, membro da Comissão de Direito dos Jogos da OAB/SP, a Caixa “seguiu exatamente a cartilha da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA)”, vinculada ao Ministério da Fazenda. “A Caixa participou de todas as etapas, preencheu todos os requisitos e obteve autorização formal para operar. Portanto, não há irregularidade alguma”, afirma.
A Caixa demonstrou interesse em atuar no segmento desde 2023, apresentando o pedido de autorização em agosto daquele ano. O aval oficial foi concedido em 30 de julho de 2025. Ou seja, o processo se deu de forma transparente e dentro das regras estabelecidas pelo próprio governo.
Ainda assim, Lula sinalizou desconforto público com a iniciativa, o que, segundo especialistas, soou como uma crítica tardia e contraditória. “Foi o próprio governo que criou a estrutura regulatória e estimulou o mercado. Agora, questionar a presença da Caixa parece incoerente”, diz Crisafulli.
Vieira, que tem trajetória técnica sólida e atua há anos nos bastidores da política paraibana, terá de administrar o desgaste e explicar ao presidente por que acredita que a entrada da Caixa nesse setor pode, na verdade, reforçar o controle estatal sobre um mercado bilionário que até hoje tem operado nas sombras.