O que aconteceu no Rio de Janeiro é uma ferida aberta que escancara a perversidade da política de segurança pública no estado. Sob o comando de Cláudio Castro, representante direto do bolsonarismo, a polícia invadiu o Complexo do Alemão e da Penha, territórios onde vivem mais de 300 mil pessoas. O saldo dessa operação foi uma tragédia: mais de uma centena de pessoas assassinadas.
Enquanto famílias choravam seus mortos, o governador comemorava em rede nacional o que chamou de “sucesso” da ação. Sucesso? Em que país a morte de dezenas de pessoas pode ser celebrada como vitória?
A cena de corpos estendidos no chão das favelas é o retrato cruel de um Estado que escolheu declarar guerra aos pobres. Isso não é segurança pública. É massacre, é barbárie, é política eleitoreira travestida de combate ao crime.
“Você se sente mais seguro?”
Pergunta o líder comunitário Raul Santiago.
Não, ninguém se sente mais seguro. Porque o que vimos não foi proteção, foi extermínio. Um governo que transforma o sofrimento de seu povo em palanque político está corroendo o sentido mais básico da vida em sociedade: o direito de viver.
Ser pobre e morar na favela não é crime. O que é criminoso é o Estado transformar sua própria população em alvo. O que vimos no Complexo do Alemão e da Penha não pode ser tratado como uma simples “operação policial”. Foi o maior massacre da história do Rio de Janeiro, e a sua comemoração pública é uma afronta à humanidade.
Isso não é admissível.
- Renata Medeiros é Mestre em ciência política, advogada;