sábado, 13 de dezembro de 2025
Morre Luis Fernando Verissimo, cronista do cotidiano e mestre do humor brasileiro
30/08/2025 07:05
Redação ON Reprodução

Luis Fernando Verissimo, um dos maiores cronistas e escritores do país, morreu nesta sexta-feira (29), aos 88 anos. O autor de mais de 70 livros publicados e dono de um estilo inconfundível, conquistou gerações com humor refinado, personagens inesquecíveis e uma escrita leve, marcada pela ironia e pela observação do dia a dia.

Verissimo enfrentava problemas de saúde há anos. Tinha Parkinson, doenças cardíacas — que o levaram a implantar um marcapasso em 2016 — e, em 2021, sofreu um AVC que deixou sequelas motoras e de comunicação. Ele deixa a mulher, Lúcia Helena Massa, três filhos e dois netos. Ainda não há informações sobre velório e sepultamento.

Da herança de Erico à sua própria voz

Nascido em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936, Verissimo cresceu cercado de livros. Filho do romancista Erico Verissimo, autor de “O Tempo e o Vento”, passou parte da infância nos Estados Unidos, onde o pai lecionava literatura. Costumava dizer que herdou de Erico a informalidade da escrita: “Meu pai foi um dos primeiros a escrever de forma mais solta. Acho que herdei isso dele”.

Discreto nos hábitos, permaneceu por toda a vida na mesma casa no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, comprada por Erico em 1941. O escritório do pai foi mantido intacto pela família, enquanto Verissimo escrevia em outro cômodo, cercado de jazz, discos de vinil e seu inseparável saxofone.

O escritor das crônicas e do riso

Sua trajetória no jornalismo começou em 1966, como revisor do jornal Zero Hora. Poucos anos depois, já era reconhecido como cronista. Em 1973, lançou o primeiro livro, “O Popular”. Ao longo da carreira, vendeu mais de 5,6 milhões de exemplares, entre contos, romances, quadrinhos e crônicas.

Criou personagens que entraram para a cultura brasileira: o detetive “Ed Mort”, o hilário “Analista de Bagé” e a irônica “Velhinha de Taubaté”. Nos anos 70, foi autor da tirinha “As Cobras”, publicada na Folha da Manhã.

Nos anos 90, teve enorme sucesso com “Comédias da Vida Privada”, que ganhou adaptação para a televisão na Rede Globo. Também integrou a equipe de roteiristas do revolucionário programa “TV Pirata” e emplacou best-sellers como “Comédias para se ler na escola” e “As mentiras que os homens contam”.

Sobre seu talento para o humor, costumava relativizar: “Não tenho vocação humorística, mas consigo produzir humor. No meu caso, é uma coisa pensada, mais deliberada”.

O cronista tímido

Apesar da popularidade, Verissimo era tímido e avesso a entrevistas. Costumava brincar com sua própria introspecção: “Não sou eu que falo pouco, os outros é que falam muito”. Para ele, a crônica era um espaço de liberdade: “Essa é uma das vantagens da crônica. A gente pode ser o que quiser escrevendo”.

Sua rotina era metódica: escrevia até ser chamado pela esposa para o almoço, interrompia o trabalho para assistir ao Jornal Nacional e reservava a noite para ouvir jazz, sempre sem distrações. “Música é sentar e ouvir”, dizia.

O torcedor apaixonado pelo Inter

Além da literatura e da música, Verissimo nutria paixão pelo futebol, especialmente pelo Internacional. Declarado colorado, escreveu o livro “Internacional: Autobiografia de uma Paixão” e crônicas memoráveis sobre o clube.

Lembrava com emoção sua primeira ida ao estádio, no antigo Eucaliptos: “Era como ver as cores do jogo pela primeira vez. Nunca vou esquecer até o cheiro da grama”. Cobriu Copas do Mundo desde 1986 e exaltou conquistas inesquecíveis do Inter, como o título brasileiro de 1975, o tricampeonato invicto de 1979 e, sobretudo, o Mundial de Clubes de 2006. Sobre o gol de Gabiru contra o Barcelona, escreveu: “Foi um momento de sonho. Antes do jogo, o sentimento era: ‘Se perder de pouco, está bom’”.

Um legado de leveza e inteligência

Luis Fernando Verissimo deixa uma obra vastíssima, marcada pela leveza, inteligência e humor. Sua escrita concisa e irônica transformou o cotidiano em literatura e ajudou a moldar o gosto de milhões de leitores.

Mais do que um autor de sucesso, foi um cronista da vida brasileira — capaz de arrancar sorrisos, provocar reflexões e traduzir em palavras o espírito de sua época.

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