sábado, 13 de dezembro de 2025
Mesmo com o mundo de luto, missa em João Pessoa ignora morte do Papa Francisco
26/04/2025 20:45
Redação ON Reprodução

A missa das 17h deste sábado (26), celebrada na Igreja Santo Antônio de Lisboa, no bairro de Tambaú, em João Pessoa, chamou a atenção por um fato inusitado, e, para muitos fiéis, incômodo: em meio ao dia do sepultamento do Papa Francisco em Roma, a celebração transcorreu sem qualquer menção direta ao funeral do Santo Padre — onde estiveram presentes 130 delegações estrangeiras, incluindo cinquenta chefes de Estado e dez monarcas.

A missa, conduzida pelo padre Marcos Antônio de Araújo Melo — respeitado na comunidade católica pessoense pelo seu trabalho social e espiritual —, teve duração de cerca de uma hora e meia. Durante os 32 minutos de homilia, o sacerdote falou sobre diversos temas, incluindo seu aniversário, comemorado na véspera, e o Título de Cidadão Pessoense que recebeu na Câmara Municipal. No entanto, ao tratar da história da Igreja, limitou-se a dizer que “papas morrem e a Igreja continua crescendo”, sem citar nominalmente o Papa Francisco ou fazer referência direta ao momento de luto que mobilizava a Igreja Católica em todo o mundo.

Protocolo e tradição

Tradicionalmente, a morte de um Papa é acompanhada de protocolos litúrgicos dentro da Igreja Católica. Em geral, durante o período de luto — os chamados novemdiales, que duram nove dias —, é esperado que padres mencionem o Papa falecido na oração eucarística, ofereçam missas em sufrágio de sua alma e, dependendo da orientação dos bispos locais ou da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), celebrem ritos especiais.

Embora não haja uma obrigatoriedade formal para que o nome do Papa seja citado em todas as missas, a omissão, sobretudo no dia do funeral, soa estranha. Em um momento tão simbólico para a Igreja, a menção ao Papa Francisco seria um gesto de comunhão e respeito, além de atender às expectativas dos fiéis.

O desconforto

Ao final da missa, o repórter do Portal O Norte Online abordou o sacerdote, cumprimentou-o pelo aniversário e, de forma respeitosa, questionou a ausência de qualquer menção ao Papa. Visivelmente desconcertado, padre Marcos apontou para uma foto do Papa Francisco afixada próxima ao altar e respondeu: “A foto dele já está aí”.

O desconforto do sacerdote diante do questionamento foi perceptível. Minutos depois, ao ver o repórter se retirando da igreja, chamou-o de volta, perguntou seu nome e afirmou, com semblante aparentemente arrependido: “Amanhã eu vou falar sobre o Papa”.

O paralelo com a imprensa

O episódio na Igreja Santo Antônio de Lisboa ocorre no mesmo dia em que a TV Record, após receber críticas de internautas e telespectadores por ignorar inicialmente a morte do Papa, decidiu enviar um correspondente ao Vaticano para reforçar sua cobertura do funeral. A emissora, controlada pelo bispo Edir Macedo, admitiu na prática a necessidade de dar o devido destaque ao falecimento do líder da Igreja Católica.

O que ocorreu na missa de Tambaú ilustra um fenômeno preocupante: mesmo dentro da própria Igreja, parte do clero pode ter subestimado a dimensão histórica da despedida de Francisco, o primeiro Papa latino-americano da história. Reconhecendo os relevantes serviços de padre Marcos à comunidade, é necessário, ainda assim, registrar — com respeito e justiça — que a morte do Papa Francisco merecia e ainda merece ser tratada com a devida reverência nas celebrações católicas.

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