Na próxima terça-feira (22), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fará seu décimo discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Será mais uma vez o Brasil inaugurando os trabalhos, tradição que vem desde os anos 1950. Mas, desta vez, o contexto é de tensão crescente com os Estados Unidos, o que pode transformar a fala de Lula em um dos momentos mais aguardados do encontro.
O petista deve repetir bandeiras conhecidas: defesa da democracia, combate à fome e fortalecimento do multilateralismo. A novidade está no tom: em meio às ameaças do governo norte-americano de anunciar novas sanções contra o Brasil, Lula pretende enfatizar a soberania nacional e rejeitar qualquer interferência externa, sem citar diretamente o nome de Donald Trump. O presidente norte-americano condicionou, em julho, a redução de tarifas sobre produtos brasileiros ao julgamento de Jair Bolsonaro — condenado pelo STF a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado em 2022.
Além de reafirmar a independência dos Poderes, Lula deve valorizar a atuação do Supremo no caso Bolsonaro, destacando que a corte não cedeu a pressões externas. O discurso também terá espaço para outros temas caros ao Planalto: a defesa da Palestina e a solução de dois Estados para encerrar o conflito em Gaza, críticas à ofensiva militar israelense, e um apelo por mais adesões à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa lançada pelo Brasil durante sua presidência do G20.
Lula ainda aproveitará o púlpito para projetar a COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém. O evento é tratado como vitrine internacional do governo e reforço à imagem ambiental do país. Questões como direitos das mulheres e combate ao racismo também devem entrar no texto final.
O clima em Nova York, porém, será de expectativa. Se Trump anunciar novas sanções na véspera, Lula pode elevar o tom. Há ainda especulações sobre um encontro de bastidores entre os dois, hipótese vista com ceticismo por auxiliares do Planalto. Certo mesmo é que o Brasil, mais uma vez, terá sua voz ouvida primeiro no palco das Nações Unidas — e, desta vez, sob os holofotes de uma disputa direta com Washington.