O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom, nesta terça-feira (4/11), ao comentar as 121 mortes registradas na megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Para Lula, não basta aceitar apenas a narrativa da Polícia Civil e do governo estadual. Ele defende que a Polícia Federal precisa entrar de forma efetiva na apuração, sobretudo na perícia, para checar se a versão oficial corresponde ao que de fato ocorreu.
Foi a primeira vez que o presidente classificou abertamente o episódio como uma matança. E deixou claro que, para ele, há dúvida concreta sobre a condução do caso pelas autoridades fluminenses.
Segundo Lula, houve sepultamentos sem perícia independente e isso compromete a transparência. Ele afirmou que o governo federal já tenta articular a atuação de peritos da PF no Rio para que se possa verificar, tecnicamente, as circunstâncias das mortes.
Lula argumentou que a autorização judicial para a operação não previa ordem de matar. Era, segundo ele, uma ordem de prisão contra o Comando Vermelho. Mas o resultado — 117 suspeitos mortos e mais quatro policiais — ultrapassa, na visão presidencial, qualquer noção de resultado proporcional.
O presidente insistiu: há apenas uma versão até agora — a contada pela polícia e pelo governo estadual. E pode não ser a única. Por isso a cobrança por uma investigação paralela e federal.
Na semana passada, o ministro Ricardo Lewandowski já havia determinado o envio de 20 peritos criminais da Polícia Federal ao estado. Eles irão atuar em exames de balística, genética forense, necrópsias e identificação de corpos.
Para Lula, do ponto de vista da legalidade e da imagem do Estado, a operação, apesar de vendida como um sucesso numérico pela quantidade de mortes, foi desastrosa. E precisa ser desnudada. Porque, na avaliação do Planalto, é justamente a checagem desse trabalho que vai dizer se o que houve foi ação policial legítima ou se o país assistiu a um episódio de violação grave, que o Rio preferiu carimbar apenas como combate ao crime.