O conteúdo da conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ocorrida na manhã desta segunda-feira (6/10), foi revelado por meio de uma nota oficial divulgada pelo Palácio do Planalto. O documento confirma que a videoconferência, realizada a partir do Palácio da Alvorada, tratou de temas sensíveis da relação bilateral — entre eles a retirada das tarifas impostas pelo governo americano a produtos brasileiros e o fim das sanções aplicadas contra autoridades do país.
Segundo o comunicado, o diálogo entre os dois líderes ocorreu em “tom amistoso” e marcou o início de uma nova fase nas relações entre Brasília e Washington. Lula estava acompanhado do vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Sidônio Palmeira (Secretaria de Comunicação). Também participou o assessor especial da Presidência, Celso Amorim.
De acordo com a nota, Lula descreveu o contato com Trump como “uma oportunidade para restaurar as relações amistosas de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”. Durante a conversa, o presidente brasileiro solicitou a retirada da sobretaxa de 40% — que chegou a ser anunciada como 50% — imposta pelo governo americano a exportações brasileiras. Ele também pediu o fim das medidas restritivas aplicadas a autoridades nacionais, entre elas o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O Planalto informou ainda que Lula aproveitou o diálogo para destacar que o Brasil é um dos três países do G20 com os quais os Estados Unidos mantêm superávit na balança comercial de bens e serviços, argumento usado para reforçar que as tarifas e sanções “não se justificam” em uma relação equilibrada.
As tarifas em questão foram estabelecidas pelo governo americano no início de agosto e afetam diretamente setores como o siderúrgico, o de alumínio, celulose e produtos agrícolas. A equipe econômica brasileira calcula prejuízos superiores a US$ 5 bilhões nas exportações. Durante a videoconferência, Lula defendeu “um acordo justo que preserve empregos e competitividade de ambos os lados”.
Ainda segundo a nota do Planalto, os dois presidentes relembraram o breve encontro que tiveram em setembro, em Nova York, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), e comentaram a “boa química” daquele momento. Ficou decidido que haverá um novo encontro, desta vez presencial, “em breve”.
Entre as possibilidades discutidas, está uma reunião durante a Cúpula da ASEAN, na Malásia, no fim de outubro. Lula também reiterou o convite para que Trump participe da COP30, que será realizada em 2026, em Belém (PA), e manifestou disposição de viajar a Washington caso o norte-americano prefira realizar a reunião nos Estados Unidos.
O Planalto confirmou ainda que, a partir de agora, os dois presidentes manterão uma linha direta de comunicação. Lula e Trump trocaram números de telefone para facilitar o diálogo entre os governos — gesto inédito desde 2011.
Por fim, a Casa Branca designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para conduzir as negociações técnicas sobre o chamado “tarifaço” com a equipe brasileira, composta por Geraldo Alckmin, Fernando Haddad e Mauro Vieira. O governo brasileiro considera que a reaproximação representa “um passo importante” para a reconstrução das relações diplomáticas e econômicas entre os dois países, após um período de distanciamento e desconfiança mútua.