sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Lula articula reação dos BRICS contra tarifaço de Trump: “Não vou me humilhar”
06/08/2025 16:49
Redação ON Reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (6) que pretende reunir os líderes dos países do BRICS para discutir uma resposta conjunta às tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos contra produtos brasileiros. A medida, anunciada no início de julho pela gestão de Donald Trump, entrou em vigor à 0h01 no horário de Washington (1h01 em Brasília) e provocou forte reação do governo brasileiro, que busca uma articulação diplomática para conter os danos econômicos e políticos.

De acordo com Lula, ainda não há previsão de uma conversa direta com o presidente americano, mas ele não descarta essa possibilidade caso perceba espaço para negociação. “No dia em que minha intuição disser que Trump está pronto para conversar, não hesitarei em ligar para ele. Mas hoje minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, afirmou o petista em entrevista à agência Reuters.

A nova tarifa atinge grande parte dos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, com exceção de uma lista com 694 itens que continuarão pagando a taxa anterior, de 10%. O impacto recai principalmente sobre setores como aço, alumínio, papel e derivados do agronegócio. Embora o governo norte-americano tenha divulgado justificativas técnicas, internamente a medida foi interpretada como uma retaliação direta às ações do governo Lula e do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Política

O governo Trump acusa o Brasil de promover uma “caça às bruxas” contra opositores políticos e, em sinal de reprovação, aplicou também sanções individuais contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. A punição foi feita com base na chamada Lei Magnitsky, um dispositivo legal norte-americano criado para penalizar estrangeiros envolvidos em violações graves de direitos humanos ou corrupção sistêmica. É a primeira vez que um magistrado brasileiro é alvo de tal sanção.

A escalada diplomática ocorre em meio ao desconforto dos Estados Unidos com a crescente aproximação entre o Brasil e a Rússia. Apenas no primeiro semestre deste ano, 39,1% de todo o diesel importado pelo Brasil veio do território russo, superando inclusive as compras de tradicionais parceiros comerciais. O gesto não passou despercebido pela Casa Branca, especialmente após o governo indiano também ter sido penalizado com aumento tarifário semelhante por razões semelhantes — a compra de petróleo russo em desacordo com as diretrizes ocidentais.

A preocupação do governo brasileiro é com a sinalização de isolamento comercial promovida por Washington, que pode se ampliar para outros setores ou países aliados. No Itamaraty, a leitura é que os Estados Unidos estão utilizando a política comercial como instrumento de pressão geopolítica, e que o Brasil precisa reagir com estratégia. A proposta de Lula é levar o tema à próxima cúpula do BRICS e discutir alternativas conjuntas, incluindo possíveis contramedidas ou uma declaração política de repúdio à ofensiva tarifária de Trump.

Outros parceiros

Além do diálogo com os parceiros dos BRICS, a diplomacia brasileira considera envolver o G20 e outras organizações multilaterais para alertar sobre os riscos do uso indiscriminado de tarifas como forma de retaliação política. Internamente, a equipe econômica já avalia os impactos do tarifaço sobre o PIB e sobre os setores produtivos mais atingidos.

Para Lula, o Brasil não pode aceitar calado esse tipo de medida. “O que está em jogo não é só o comércio, é o respeito entre nações soberanas”, disse um assessor direto do presidente. O gesto de Trump, além de agravar a tensão com o Brasil, pode representar um precedente perigoso para outras democracias em desenvolvimento.

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