quarta-feira, 12 de março de 2025
Lançamento do livro “Deu no Jornal” reúne jornalistas e políticos em noite de homenagens a Agnaldo Almeida
24/02/2025 9:32 pm
Redação ON Divulgação
  • Redação ON

A noite desta segunda-feira (24) foi marcada por uma emocionante homenagem ao jornalista Agnaldo Almeida, com o lançamento do livro “Deu no Jornal”, na Livraria A União do Espaço Cultural. O evento foi prestigiado por dezenas de jornalistas, políticos e admiradores do trabalho do comunicador, entre eles a primeira-dama Ana Azevedo, que fez um discurso comovente sobre a trajetória do autor.

A obra, que tem o prefácio de Gonzaga Rodrigues, certamente o maior jornalista da Paraíba – ainda em atividade com os seus 90 anos –  reúne crônicas publicadas por Agnaldo Almeida no jornal A União, onde ele assinava a coluna de mesmo nome, refletindo sobre o jornalismo e sua prática. O livro foi organizado por Naná Garcez, jornalista e viúva de Agnaldo, que também é presidente da Empresa Paraibana de Comunicação (EPC). Em sua apresentação, Naná destacou a importância da publicação como um registro do olhar crítico e humano do autor sobre o jornalismo.

“Mesmo depois de alguns anos da sua suspensão, em 2018, o rico conteúdo do cotidiano do jornalismo às perspectivas para o setor e os profissionais se mantém atualíssimo”, afirmou Naná. Ela também ressaltou a pluralidade da obra, que traz reflexões sobre política, língua portuguesa e questões sociais: “Com uma visão humana no trato das questões sociais, espaço às opiniões divergentes, mas deixando transparecer a própria visão, o volume de colunas publicadas resulta num acervo que não cabe num só livro.”

O livro “Deu no Jornal” já está disponível para aquisição na Livraria A União e promete ser um importante registro da trajetória de Agnaldo Almeida e do jornalismo paraibano.

Naná Garcez autografa livro para Marcondes Brito

O prefácio de Gonzaga Rodrigues

Um partejador de talentos

Há muito o que preservar de Agnaldo Almeida. Do jornalista em sua versatilidade bem-sucedida na imprensa e na televisão, na sua indiscutida influência, e, sobretudo, do homem que soube se comportar sobre todas as suas lides e projeções profissionais.

Num conjunto exemplar de memorialismo dialógico por conta dos 130 anos de A União, organizado por um dos seus seguidores, Luiz Carlos Sousa, o perfil de Agnaldo, ou seja, o vulto que vai em crescente a cada depoimento de duas gerações, a partir do mais velho, que sou eu, que lhe assegura não só de circunstância como também de época. Houve a época dos fundadores, no final do século XIX, encabeçada por Gama e Melo, que facilmente desponta num texto de hoje, dependendo de quem escreve; houve a época decantadíssima de Carlos Dias Fernandes até 1930; a de Celso Mariz com Osias Gomes; e a de Juarez Batista com Sá Leitão, Juarez Macedo e Jurandir Barroso – um norte-riograndense que muito nos ensinou no ofício, precursor da crônica cinematográfica – e a fase de Hélio Zenaide com os meus contemporâneos de Beltrão. E a partir da gestão de José Souto, a que motivou esta reminiscência sobre Agnaldo Almeida.

A começar de Luiz Carlos Sousa, da própria Naná Garcez, hoje dirigente exitosa, atente-se para a fundada riqueza de depoimentos dos que se firmaram sob o “partejamento” de Agnaldo, ou seja, aquele dom socrático de fazê-los descobrir o que traziam em si. Além da própria entrevista que ao lado de Frutuoso Chaves tem muito a ver com o jornalismo que se faz hoje.

“Seu feito tranquilo de lidar com as questões do trabalho e de sempre levar ao patamar da filosofia as questões do dia a dia me chamaram atenção. Havia uma efervescência, discussões acaloradas, mas respeitosas. Foi naquele ambiente, sob a batuta do maestro Agnaldo, que afiei o quanto pude meu raciocínio crítico questionando os rumos do mundo à nossa volta”. Quem diz isso não está entre os entrevistados, aguçou o raciocínio com Agnaldo e cedo debandou para o Banco do Brasil, onde foi muito requisitado pelo trato com a comunicação da empresa do que pela atividade propriamente bancária, um de meus filhos, Gustavo Olympio, hoje professor do IFPB.

Quando conheci Agnaldo, em 1973, eu já me achava fora da convivência integral com as redações, despedido de O Norte naquele ano. Carlos Roberto de Oliveira, editando o Correio da Paraíba, abre espaço diário à crônica que eu mantinha no jornal Associado, batizada de “Arquibancada”, coisa que fazia por esporte, digamos assim, às vezes um gracejo premiado pela vigência da censura e do dedurismo.

E lá me vejo com alguém que começa de cima, que passado algum tempo no Diário do Borborema já entra de copidesque no Correio, jornal que emulava em qualidade e tiragem com os melhores da praça.

E eis-me com o jovem Agnaldo, que ouvindo os motivos de minha saída do O Norte e percebendo, sem sair do teclado, a dificuldade minha e de Carlos Roberto em achar um nome para meu novo espaço, se saiu com um título de clara conotação com os motivos da minha demissão da crônica e dos quadros de O Norte. “Café Pequeno” fora o título em alusão ao que motivara minha saída.

Começa aí, com alvissaras, uma admiração, uma afinidade, não só por motivos de inteligência como, essencialmente, de firmeza de caráter.

Um exemplo: convidado para a direção técnica de A União pelo governador a ser empossado, tive a atribuição prévia de escolher minha equipe, Agnaldo a encabeçar a lista. Empossado, o governador é levado a nomear outro nome em meu lugar. Reação imediata de Agnaldo: sem você eu não vou. Deu trabalho dissuadi-lo dessa solidariedade. Afinal, Barreto Neto, o escolhido, grande e bom companheiro, nada tinha a ver com o meu escanteio.

No governo seguinte, o de Burity, quando cheguei a ser nomeado sem ao menos ser convidado, já encontrei preparado, pronto, o jornal que planejávamos. Nas duas gestões seguidas, a de Souto e a de Nathanael Alves, a redação e o espírito do jornal teve o mesmo condutor. Os acréscimos, como o Jornal de Domingo, também entram a crédito de Agnaldo, que concorreu igualmente para que, tanto o jornal como a editora, mudassem de cara no apoio forte e inovador ao setor de arte manejado por Milton Nóbrega. A partir daí o livro e os demais impressos ganharam padrão nacional. Nenhum sucessor de Tristão de Ataíde daria o tratamento de “reles brochurazinha” ao livro saído dos prelos da Paraíba.

Quando o conheci melhor, e do profissionalismo passamos à amizade, ao convívio em família, fui descobrindo o fundamento sobre o qual se firmou o traço principal da personalidade de Agnaldo, qual seja, o de ter opinião própria e não a subordinar às conveniências. Traço que seguiu apagar. Quantas vezes discordamos e quantas nos fizeram sair mais confiados um no outro! Ele era filho de um sapateiro que, salvo engano, também terminou usando boné, e que, tão firme quanto o líder que fora de sua classe e exemplo para seus filhos.

Chega em boa hora uma ou a primeira seleta em livro do que Agnaldo Almeida deixou escrito. Numa leitura que ele resistia à ideia de publicar-las, sempre acreditando que de perto irá conhecer melhor o homem de reflexão e quando o público que nada adivinha das reações internas. Ele não acreditava na isenção da notícia que estava por trás do que escrevia e ensinava a escrever. “Há sempre uma forma do redator se infiltrar entre as palavras de aparente neutralidade!” – advertia-nos o filho do velho Agripino, com quem Agnaldo aprendera mais do que na formação vida afora.

Gonzaga Rodrigues

Jornalista e membro da Academia Paraibana de Letras

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