O deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos-PB) vive talvez uma das fases mais paradoxais de sua trajetória política. Presidente da Câmara dos Deputados, ele tem sido ao mesmo tempo vaiado em solenidades públicas e beneficiado pelos movimentos do governo federal, num daqueles momentos em que o imponderável parece atuar sobre o tabuleiro político de Brasília.
Nesta quarta-feira (15/10), Dia do Professor, Motta foi vaiado durante uma solenidade com educadores, num gesto que refletiu a insatisfação de parte das categorias com o Congresso e, em particular, com projetos polêmicos sob sua condução. Nada que o surpreenda — afinal, o paraibano está acostumado a viver sob holofotes e no olho do furacão das grandes articulações nacionais.
Mas, ironicamente, no mesmo momento em que enfrenta ruídos de imagem, sua posição política tende a se fortalecer. A avaliação entre observadores é que o “Comando de Caça ao Centrão” desencadeado pelo governo Lula — com a demissão em série de indicados políticos de parlamentares que vêm votando contra o Planalto — acaba fortalecendo a figura de Hugo Motta dentro da Câmara.
Quando a crise ajuda o protagonista
Segundo análise publicada pelo g1, Motta pode estar gargalhando por dentro, ainda que discretamente, com o desmonte da estrutura de poder do Centrão no governo.
Isso porque, desde que assumiu o comando da Câmara, ele reclamava não ter em mãos as ferramentas reais do poder, como o controle de cargos estratégicos e a influência direta sobre a liberação de emendas.
Esses espaços continuavam sob o domínio do ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que manteve forte influência sobre o governo Lula por meio de indicações e articulações orçamentárias.
O grande sonho de Hugo Motta — e também sua obsessão política — é assumir de fato o controle total da Câmara, deixando de ser apenas o presidente formal da Casa.
E, por um capricho do destino, o movimento do Planalto de retaliar deputados “rebeldes” pode lhe abrir justamente essa brecha.
Cada exoneração de um aliado do Centrão enfraquece um pouco mais Lira, e, proporcionalmente, aumenta o espaço de manobra de Motta, que passa a ser visto como uma alternativa de interlocução mais equilibrada entre o governo e o Congresso.
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