O paraibano Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados, tem se notabilizado em Brasília por sua capacidade de transitar entre os dois polos da política nacional. Num dia, estende gestos de conciliação com o governo Lula; no outro, se alinha a figuras da direita bolsonarista. Hoje, o dia foi de apoio ao deputado Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de Segurança de São Paulo, a quem Motta saiu em defesa enfática — chegou a bater na mesa e elevar o tom de voz em reunião de líderes após ser criticado por petistas.
A informação é da colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo.
O embate ocorreu depois de críticas feitas pelo líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), ao relatório de Derrite sobre o projeto de lei antifacção — proposta do governo que trata do combate ao crime organizado. O petista acusou Motta de ter cometido um “furto com abuso de confiança” contra Lula ao entregar a relatoria a um opositor do governo. O paraibano reagiu de forma dura, lembrando que a prerrogativa da indicação é exclusiva do presidente da Câmara.
“A prerrogativa de indicar o relator é do presidente da Câmara dos Deputados. É minha. E não é bravata ou campanha de difamação em redes sociais que vai me intimidar ou fazer recuar”, disse Motta, segundo relatos da reunião. O deputado ainda declarou que não é desonesto e que “até quando erro, erro com boas intenções”.
Em seguida, defendeu Derrite como uma escolha “técnica e não política”, destacando sua experiência de mais de 20 anos na área de segurança. O gesto reforçou a percepção de que o paraibano, embora busque manter pontes com o Planalto, não hesita em se aproximar da oposição quando considera conveniente.
A troca de acusações intensificou o clima tenso na Câmara. Lindbergh voltou a criticar a nomeação, afirmando que a oposição tenta se apropriar do projeto e acusando Derrite de “desmontar a proposta do governo e atacar a Polícia Federal”. O texto de Derrite chegou a prever que a PF só poderia atuar nos estados mediante solicitação dos governadores, mas o relator acabou recuando diante da pressão.
Apesar do confronto, ministros do governo já procuraram Hugo Motta para tentar restabelecer o diálogo. Em Brasília, cresce a leitura de que o deputado paraibano tem se consolidado como um dos personagens centrais na disputa de influência entre Planalto e oposição, ora acenando à direita, ora à esquerda — mas sempre buscando manter-se no centro do poder.