sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Estudo da UFP|B identifica padrões sobre uso de telas em famílias de crianças com e sem autismo
30/11/2025 22:07
Ascom/UFPB Arquivo pessoal

Uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba (PPGPS/UFPB) identificou diferenças inéditas na forma como famílias de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e de crianças em desenvolvimento típico lidam com o uso de telas.

O estudo revelou que, no caso das mães de crianças autistas, fatores como maior renda familiar, maior número de filhos e, especialmente, a dificuldade percebida em impor limites estão associados a um maior tempo de exposição diária a dispositivos digitais. Já entre mães de crianças em desenvolvimento típico, o uso mais intenso de telas esteve relacionado principalmente à dificuldade de impor regras e ao fato de a criança possuir seu próprio celular ou tablet.

A pesquisa, desenvolvida entre 2023 e 2025 por Maria Gabriela Vicente Soares, então mestranda e hoje doutoranda da UFPB, contou com orientação dos professores Rômulo Lustosa Pimenteira de Melo e Lilian Kelly de Sousa Galvão e com a colaboração da pesquisadora Tamna Emanueli Pinto Benevides na produção dos artigos derivados da dissertação.

Participaram do estudo 200 mães que responderam a instrumentos relacionados à rotina familiar, práticas de mediação digital e exaustão parental. Os resultados estatísticos também mostraram diferenças significativas nas estratégias de imposição de regras entre famílias de crianças com e sem TEA, o que reforça que esses grupos adotam dinâmicas distintas de mediação digital.

Embora a exaustão parental tenha sido investigada, a pesquisa não encontrou relação direta entre esse fator e o tempo de tela das crianças, contrariando a hipótese de que pais exaustos recorrem mais aos dispositivos como forma de descanso. O estudo identificou, porém, que mães com maior escolaridade tendem a apresentar níveis mais altos de exaustão, embora isso não influencie o tempo de uso de telas. Esses resultados apontam que o contexto familiar, incluindo a organização da rotina, a clareza das regras e as características da criança, exerce papel mais decisivo do que o desgaste emocional dos cuidadores na determinação das práticas de mediação digital.

Um aspecto central da dissertação foi a adaptação e validação brasileira da Escala de Exaustão Parental, instrumento psicométrico que permite medir de forma padronizada o desgaste físico e emocional vivenciado por mães e pais. Com a escala validada, o estudo pôde avançar na compreensão de como práticas parentais e características familiares se articulam com o uso de telas na infância.

Para a autora da pesquisa, os resultados reforçam a importância de ações educativas específicas voltadas a famílias de crianças autistas. “A pesquisa mostra que o contexto familiar influencia diretamente o tempo de telas das crianças e que as mães de crianças com TEA tendem a impor menos limites, possivelmente devido às especificidades do diagnóstico. Esses dados oferecem subsídios importantes para campanhas de conscientização e para políticas públicas que promovam uma mediação digital mais saudável nesse grupo”, afirma Maria Gabriela. Ela destaca ainda que o estudo investigou apenas o tempo de uso dos dispositivos, sem avaliar o conteúdo consumido ou os impactos cognitivos e comportamentais desse uso.

A relevância científica e social do trabalho foi reconhecida nacionalmente. A pesquisa recebeu o Prêmio Luiz Marcellino de Oliveira, conquistando o primeiro lugar na categoria Mestrado durante a 55ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia. 

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