O empresário Ernildo Júnior, dono da casa de apostas Pixbet e natural de Serra Branca, no Cariri da Paraíba, voltou ao centro das atenções em Brasília após o depoimento de Fernando Cavalcanti à CPI do INSS. Cavalcanti, ouvido nesta semana, confirmou ter dirigido uma fintech chamada XBank Digital em sociedade com Ernildo — empresa agora investigada por suposto envolvimento em descontos ilegais em aposentadorias e lavagem de dinheiro.
O XBank, criado em 2023 e dissolvido um ano depois, tinha entre seus diretores o advogado Nelson Wilians, que é também advogado pessoal de Ernildo e da Pixbet. Wilians e Cavalcanti são apontados pela Polícia Federal como personagens de um mesmo esquema financeiro que usava empresas de fachada e operações digitais para movimentar recursos suspeitos. A comissão parlamentar quer entender se parte desse dinheiro teria relação com o universo das apostas online.
Durante a sessão, o senador Marcos Rogério (PL-RO) disse que há “elementos concretos” ligando o caso dos descontos ilegais em aposentadorias ao “esquema da jogatina”, e citou diretamente o nome da Pixbet, cuja aeronave de luxo, avaliada em R$ 20 milhões, foi flagrada com a logomarca da empresa e seria usada também por Wilians e Cavalcanti. A CPI estuda cruzar as investigações do INSS com as que já correm na Polícia Federal da Paraíba, onde Ernildo é investigado por evasão de divisas, operação irregular de instituição financeira e lavagem de dinheiro.
O empresário paraibano, que ganhou fama nacional ao transformar a Pixbet em uma das maiores patrocinadoras do futebol brasileiro, já vinha sendo alvo de apurações sigilosas desde 2022. As suspeitas envolvem remessas ilegais ao exterior, uso de CPFs de pessoas falecidas e transações bilionárias via uma holding sediada em Curaçao, chamada Pix Star Brasilian N.V., responsável por controlar a operação da empresa no Brasil.
A Pixbet chegou ao topo em janeiro de 2024, quando assinou contrato para ser patrocinadora máster do Flamengo, com validade até 2025 e possibilidade de renovação. Mas o acordo foi rompido antes de completar oito meses, após denúncias de atrasos de pagamento e a intensificação das investigações federais. O mesmo modelo de patrocínio havia sido adotado anteriormente com o Corinthians, onde um repasse de R$ 5,2 milhões seguido de uma devolução de R$ 15,3 milhões chamou a atenção da Justiça como possível mecanismo de lavagem de dinheiro.
No auge da fama, Ernildo também tentou capitalizar politicamente. Em 2024, ele desembarcou de helicóptero — o mesmo citado na CPI — em Serra Branca, para apoiar a candidatura de Michel Alexandre Pereira Marques, conhecido como “Alexandre Pixbet”, eleito prefeito pelo União Brasil. O episódio marcou a aproximação de Ernildo com lideranças do Centrão, entre elas o senador Efraim Filho (União-PB) e o presidente nacional do partido, Antônio de Rueda, que chegou a lançar ali, no interior da Paraíba, a pré-campanha de Efraim ao governo estadual em 2026.
Agora, o nome do empresário reaparece no noticiário não mais como o do paraibano que conquistou os gigantes do futebol, mas como o de um personagem-chave em duas frentes de investigação — uma no Congresso, outra na Polícia Federal. A CPI do INSS vê no caso da Pixbet um possível elo entre fraudes previdenciárias e apostas online, o que pode transformar a meteórica ascensão de Ernildo Júnior em um dos capítulos mais explosivos das apurações sobre lavagem de dinheiro no país.