A escalada da tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos exige mais que declarações públicas de impacto: é urgente que prevaleçam o diálogo e o bom senso. Nesta sexta-feira (1/8), o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “pode ligar para ele quando quiser”. A fala ocorre em meio à repercussão das tarifas de 50% impostas pela Casa Branca a produtos brasileiros.
Trump disse estar aberto a uma conversa direta com Lula, mas fez críticas à condução da política econômica brasileira. “As pessoas que estão comandando o Brasil fizeram a coisa errada”, afirmou. Ainda assim, fez questão de ressaltar seu apreço pelos brasileiros: “Eu amo o povo do Brasil”.
Lula respondeu pelas redes sociais, reforçando que “o Brasil sempre esteve aberto ao diálogo” e que medidas estão sendo adotadas para “proteger a economia, as empresas e os trabalhadores” diante do tarifaço. A postura do Planalto, no entanto, segue cautelosa: interlocutores diretos, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, continuam conduzindo conversas técnicas com representantes da Casa Branca, enquanto uma ligação entre os dois presidentes é, por ora, descartada.
Entenda o tarifaço
- Trump assinou uma ordem executiva que eleva para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros, unindo uma taxa de 10% imposta em abril com mais 40% anunciados neste mês.
- Cerca de 700 itens de interesse estratégico para os EUA, como suco de laranja, aeronaves, castanhas, petróleo e minério de ferro, ficaram de fora da nova alíquota, sendo taxados apenas com os 10% iniciais.
- A previsão é de que as tarifas passem a valer ainda neste início de agosto.
- O MDIC calcula que aproximadamente 45% das exportações brasileiras para os EUA serão afetadas pela nova carga tributária.
A crise, que mistura questões comerciais e pressões políticas — como a tentativa americana de intervir no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF —, não favorece nem Brasília nem Washington. Enquanto o governo norte-americano busca reforçar sua posição econômica, o Brasil tenta minimizar os danos ao seu setor produtivo e evitar retaliações que possam escalar o conflito.
Mais do que discursos duros, a situação exige um esforço diplomático focado em resultados. Trump sinaliza disposição para ouvir. Lula, por sua vez, acena com o diálogo, mas mantém firme a defesa da soberania nacional. O momento pede serenidade e uma postura pragmática de ambos os lados.