O deputado federal Coronel Meira (PL-PE) protocolou na Câmara dos Deputados um pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostas irregularidades na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), presidida por Ednaldo Rodrigues. A iniciativa, que ainda depende da coleta de assinaturas para avançar, surge em meio a uma série de denúncias recentes, como as reveladas pela revista piauí, que expuseram gastos extravagantes e práticas administrativas questionáveis dentro da entidade, incluindo espionagem contra dirigentes, assédio moral a funcionários e uso de recursos para fins pessoais.
Embora a CBF seja formalmente uma entidade privada, a proposta da CPI se apoia no argumento de que o futebol, no Brasil, tem um peso que extrapola os limites do setor privado. A gestão da CBF afeta diretamente um patrimônio cultural e social do país, com impactos econômicos, simbólicos e institucionais profundos. Além disso, há indícios de que a entidade possa, direta ou indiretamente, beneficiar-se de incentivos fiscais, utilizar equipamentos públicos e firmar convênios com entes estatais. Assim, mesmo sem o repasse direto de verbas públicas, a atuação da CBF pode ser considerada de relevante interesse público — critério que justifica a abertura de uma investigação parlamentar.
Não é a primeira vez que a entidade máxima do futebol brasileiro é alvo do Congresso. Em 2001, a CPI da CBF-Nike já havia investigado suspeitas de corrupção e favorecimentos envolvendo contratos de patrocínio. De lá para cá, os presidentes que antecederam Ednaldo Rodrigues não escaparam dos escândalos: Ricardo Teixeira vive foragido nos Estados Unidos, Marco Polo Del Nero foi banido do futebol por corrupção, e José Maria Marin cumpre pena nos EUA após ser condenado no escândalo da Fifa. A cada nova gestão, a entidade se vê envolta em denúncias que raramente resultam em punições internas, o que reforça a tese de que uma apuração externa e institucionalizada é necessária para romper o ciclo de impunidade.
O pedido do deputado Coronel Meira, portanto, reacende a discussão sobre os limites da autonomia das entidades privadas quando seus atos comprometem interesses coletivos. Se prosperar, a CPI da CBF poderá convocar dirigentes, requisitar documentos e promover audiências que, pela primeira vez em anos, trariam luz aos bastidores de uma instituição que se mantém blindada sob a justificativa da independência, mas cujas práticas têm causado indignação crescente entre torcedores, jornalistas e parlamentares.