quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
Uma história terrível
18/12/2025

    Em 1847 o capitão do mato Jacinto Pires, que se dedicava a perseguir e capturar escravos fugidos, começou a achar estranho que nos últimos tempos tivesse perdido completamente o rastro de vários escravos que procurava. Mais estranho ainda, esses rastros acabavam sempre na fazenda Boa Esperança (Vale do Paraíba), de propriedade de Inácio Rodrigues de Albuquerque, que ali morava com a esposa Madalena e seus filhos Baltazar, Custódio e Perpetua, mais alguns escravos subnutridos. Era como se a terra tivesse engolido os fugitivos. Usando de astucia teria conseguido ser recebido na fazenda e descoberto pistas que indicavam terem os escravos fugidos que se escondiam ali sido devorados pela família. Canibalismo. No entanto, o que poderia um simples capitão do mato fazer além de espalhar o boato?

    Além disso a família Albuquerque era extremamente discreta e arredia a qualquer visita. Tudo começara muito tempo antes, quando um surto de febre amarela trouxe a fome para a região. Os Albuquerque sofreram três semanas sem alimentos. Foi quando faleceu um escravo deles. Meio enlouquecido pela fome, Inácio decidiu que a família comeria a carne do defunto. Afinal, a alma do de cujus já estava com Deus e seria pecado deixar sua família morrer de inanição com aquela carne disponível. Daí pra frente acostumaram-se com o sabor agridoce da carne humana e teriam devorado ao longo dos anos mais de 70 escravos fugidos. 

    No entanto, com a chegada do Padre Anselmo de Souza à região a situação começou a se modificar. Através de denúncias e do depoimento do capitão do mato, em 1862 ele juntou alguns homens, conseguiu ser recebido pela família enquanto a tropa que levara penetrou no porão e conseguiu provas, inclusive um diário onde registravam os nomes dos escravos devorados. Presos, foram condenados depois de um debate jurídico profundo; os advogados dos canibais alegavam que por se tratar de escravos o crime não seria de assassinato, mas de destruição de propriedade alheia. Venceu, entretanto, a tese do ouvidor Henrique Tavares; as vítimas, apesar de escravos, eram súditos do império, portanto protegidos contra assassinatos.

    Em novembro de 1862 Inácio e Custódio foram enforcados, Baltazar cumpriu prisão perpetua com trabalhos forçados e as mulheres “apenas” prisão perpetua. Que história, hem!

    EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA- Não sou historiador, me limito a contar as histórias que me impressionam. Na pesquisa que fiz tudo indica a verdade destes fatos, menos um tal “Chatogpt”.

    Pudera, segundo essa ferramenta minha mãe teria tido 12 filhos. Onde estão os outros 9?

canal whatsapp banner

Compartilhe:
sobre
Marcos Pires
Marcos Pires

Marcos Pires é advogado, escritor e carnavalesco.