terça-feira, 1 de abril de 2025
Templo para a cultura  
23/02/2025
  • Por José Nunes

         Tendo saindo de Serraria em 1970, para ali sempre retornei em períodos alternados. Isso bastava para consolar a saudade de mim mesmo, do menino que continuava agarrado às pequenas coisas do lugar, guardadas e revistas a cada momento de saudade. Mesmo no naufrágio das ilusões, sempre lembro da mensagem de São Paulo, apóstolo, na Epistola aos Hebreus: “Lembrai-vos dos dias passados, aproximadamente vividos e sofridos – vencidos.”

         Isaias, profeta, séculos de Paulo, dizia: “Lembrai-vos das coisas passadas”. 

Boas ou angustiantes, às coisas passadas dou graças. Ao poeta Jorge de Lima recorro lembrando de seu poema “Invenção de Orfeu”, como consolo das “passadas vivências, dai-vos graças”.      

Em tudo mora a eternidade. Necessário ir ao seu encontro. Encontrar é o mistério. Em Deus tudo se cria. Quando destruído, em Deus o espiritual se recria e floresce. Tantas vezes caímos e nos levantamos pelo sopro do vento abrasador que desce da Cruz, o sangue e a água a aspergir nosso corpo.

Quando percorro as ruas de Serraria, sempre recordo seu passado que esteve tão perto de mim. Muitos que testemunharam as veredas que continuam abertas, a cruz sendo plantada como símbolo do perpétuo.

O café, a cana e a agave dando condições para que os centros industrializados pudessem conhecer sua riqueza. Amsterdã recebia o produto para suas cordas que nem sabia de sua procedência. Há mais de cem anos o café com seu aroma inconfundível produzido em Serraria ganhava prêmio nacional no Rio de Janeiro e a rapadura adocicava as mesas dos caboclos do Sertão.

  Lembro das palavras do Profeta, dos Apóstolos e do Poeta para alimentar as imagens das pessoas que construíram Serraria, esta Princesa do Brejo.

Estou sabendo que em breve teremos um ambiente para preservar nosso passado. A administração municipal anuncia a instalação de um museu para guardar a história de Serraria. O prefeito Petrônio Freitas idealizava transformar a centenária cadeia pública, desativada, em ponto de cultura. Um gesto que certamente será seguido pelo novo gestor da cidade, Eneas Caboclo.

A exemplo de outras cidades do Brejo paraibano, Serraria tem uma rica história em de fatos e manifestações folclóricas de tradições que nos orgulham, com uma paisagem exuberante, um ambiente encantador.

Com a decisão do prefeito em transformar a cadeia em um centro de cultura, espaço para guardar pedaços de nossa história, nos deixa por demais ancho. 

Terra das palmeiras que os poetas cantam, seus talentos se espalham pelos quatro cantos do país, seja na música, na poesia, nas artes plásticas, na literatura ou na política serão acolhidos em um espaço privilegiado.

Quando desço pelas ruas de minha cidade, meus olhares estão sempre voltados para este lugar onde estarão os rastros de nossas famílias, os resquícios do tempo de outrora quando do apogeu político e econômico de Serraria, baseado no café, no agave, na rapadura e na cachaça ganha os mercados, inclusive internacional.

Por volta de 1915, de modo espetacular, o café produzido em Serraria ganhava prêmio nacional em concurso no Rio de Janeiro. O major Antônio Bento exportando as riquezas de nossa terra e orgulho de seus conterrâneos. Como ainda hoje. 

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José Nunes

José Nunes é jornalista e membro da Academia Paraibana de Letras (APL).