“Só quem prova da comida sabe o gosto que ela tem”, disse Patativa do Assaré, com a sabedoria de quem comeu farinha seca nos grotões do Ceará. Quem nunca mastigou o silêncio da fome não entende o estômago vazio.
Vital Farias e Salgado Maranhão cantaram o “amargo mel dessa colmeia”, que é o Brasil: doce para poucos, ferrão para muitos. Quem sente o ferrão não tem espaço no noticiário nem na mesa dos poderosos. “A dor da gente não sai no jornal” — e, quando sai, é entre uma fofoca de celebridade e uma previsão do horóscopo.
O povo sabe: pimenta nos olhos dos outros é refresco. Quem tem casa e comida julga o sem-teto que dorme na praça. Quem nunca chorou no SUS desdenha da fila.
A empatia virou palavra bonita, mas prática rara. Só quem já andou descalço na pedra quente entende a pressa de quem corre — não por esporte, mas por necessidade.
E ainda tem quem pergunte: “Por que tanta revolta?” Ora, experimente o prato antes de criticar o gosto.
