sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
She is a movie star
20/10/2025

“Toda idade pode ser encantadora, desde que se viva dentro dela.”
Brigitte Bardot

Viver dentro da própria idade é aceitar o milagre de estar presente. É ser contemporâneo de si — não do que se recorda nem do que se espera. A lembrança costuma embelezar o que já não existe; a esperança, adiar o que já é possível. Mas a vida, em seu desassombro, só se deixa tocar pelo instante.

E talvez seja esse o segredo que Bardot, sem perceber, nos ensinou: a beleza verdadeira não mora no tempo, mora na presença.

Ela está muito doente e internada em um hospital na França.

BB estava nas revistas que passavam lá em casa, com aquela beleza invulgar, incensando a santidade. Fui reencontrá-la numa citação do meu livro de inglês (Let’s Have Fun, Book One, Yázigi Method) da 5ª série.

A professora, Dona Ísis, tinha o charme glamouroso dos anos 60 — batom marcante, voz pausada e um cigarro aceso, segurado por uma longa piteira entre os dedos — e costumava colar cartazes com as imagens da aula na parede, enquanto lia:

Brigitte Bardot. She is a movie star.
Pelé. He is a soccer player.
Roberto Carlos. He is a singer.

Com o tempo, eu soube da passagem — demorada e marcante — de BB pelo Brasil, em 1964, nos dias em que ocorria o Golpe Militar. Há uma frase simbólica atribuída a ela

“Adorei a revolução de vocês. Não houve tiros.”

Disse isso, ou algo parecido, enquanto o país mergulhava na ilusão de uma revolução sem sangue.

Enquanto esteve no Brasil, Brigitte Bardot caminhou descalça pelas areias de Búzios, sem imaginar que estava refazendo a geografia simbólica do país. Veio buscar silêncio e acabou descobrindo um mito.

A vila de pescadores virou vitrine do paraíso; e ela, que fugia dos holofotes, criou novos. Hoje há ali, na Orla Bardot, uma estátua de bronze — feita por Christina Motta — onde BB aparece sentada, chapéu e cabelos ao vento, olhando o mar. É como se esperasse o barco que a trouxe: uma deusa em exílio de si mesma.

Depois, eu vi alguns dos filmes que ela fez e a ouvi cantando — inclusive músicas brasileiras, como Maria Ninguém, que ficou linda na voz dela, com aquele acento ainda adolescente.

Como dizia o Padre Vieira: “A beleza folga os olhos.” Olhar para BB dava o conforto de um colírio natural.

Ela resolveu ser ambientalista e protetora dos animais, rejeitando qualquer intromissão plástica ou cirúrgica em sua beleza — que sustenta, altiva, até depois dos 90 anos, numa redoma brilhante.

Dizem ser dela a impactante frase:

«J’ai donné ma jeunesse et ma beauté aux hommes; je donne ma sagesse et mon expérience aux animaux.»

A frase resume o percurso inteiro: a mulher que deu o corpo à arte devolveu o espírito à vida.

A internet permitiu resgatar imagens suas ainda mais belas que as das revistas da minha juventude — inclusive uma ao lado de Picasso — e outras tantas de toda a sua vida. Há uma delas que me emociona de modo especial: minha neta, Any, parece muito com ela.

Ela e Alain Delon destacavam-se nos anos 60 pela invulgar beleza e sugeriam um casal perfeito (que não eram).

O retiro dela não foi tão impactante quanto o de Greta Garbo, Marlon Brando ou Hesse — as divindades supremas —, mas continuou, perfeitamente canonizável, como diria o professor de Filosofia, Trogo, sobre Sartre, nessa hiperdulia.

Uma das questões vestibulares ao paraíso será:

“Você viu ou lembra de Brigitte Bardot?”

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