terça-feira, 1 de abril de 2025
Sempre é bom lembrar Dom Marcelo
30/03/2025

Na sua primeira incursão pela Paraíba, o então Monsenhor Marcelo Pinto Carvalheira, ao tempo de sua escolha pelo papa como bispo auxiliar de Dom José Maria Pires (1975), apontou os horizontes que considerava indispensáveis para as transformações da sociedade.
Agora quando celebramos 50 anos da ordenação episcopal de Dom Marcelo Pinto Carvalho, é razoável lembrar a data, reportando-se às suas primeiras palavras nas terras tabajaras/potiguaras. Achei oportuno resgatar suas proféticas e luminosas expressões para nossa reflexão.
Ele chegou em um tempo quando existia a possibilidade de transformações da Igreja no Brasil dez anos depois do Concílio Vaticano II. O momento suscitava a formação de pequenas comunidades na base onde estavam as famílias desassistidas. Nessas comunidades de paz, em muitos lugres, os cristãos eram educados na fé, orientados a descobrir o compromisso que tinham dentro do mundo em transformação política, econômica e social. A Igreja era incitada a orientar na construção de uma nova sociedade, com muitos desafios, atuando “segundo os desígnios de Deus, criador e pai”, dizia.
Uma parte da Igreja se confrontava com os ideais do governo militar, quando oprimia as pessoas, prendia quem se opusesse ao regime, censurava às liberdades individuais e à imprensa, tolhendo as manifestações artísticas.
No jornal O Norte (07/11/1975), Dom Marcelo afirmou que a missão do cristão é de amor ao próximo e de orientar na transformação dos corações das pessoas.
Sua opinião era de que o papel da Igreja seria preparar o mundo futuro. Sobre isso dizia que “nós devemos formar a grande fraternidade dos filhos de Deus e enfrentar todos aqueles problemas que contradizem o plano do criador”.
Nessa entrevista, afirmava ser “o cristão ignorar-se a sorte dos injustiçados, dos deserdados, dos desfavorecidos deste mundo”.
Recordava que a Igreja sempre foi chamada a ficar do lado do pobre. “De modo que a atitude de justiça, a atitude de preocupação com os pequeninos me parece deve ser fundamental da Igreja Cristã e todo aquele que realiza o ministério dentro desta Igreja, seja ele sacerdote seja ele simples fiel ou leigo”.
A uma pergunta da imprensa sobre se a Igreja reconhecia algum poder temporal capaz de impor verdades à consciência do cidadão (que professasse a fé cristã), confessou: “É claro que aqueles que têm autoridades legítimas são reconhecidos pela Igreja”.
No seu entendimento à época, era de que os cristãos “têm como missão propiciar o bem comum de todos os homens dentro da sociedade, é claro, que não é possível o bem comum sem que se consigam os grandes valores que dão sentido à vida humana, uma vida digna, o acesso ao trabalho, à cultura, afinal às oportunidades que a sociedade deve oferecer para que cada pessoa se realize plenamente”.
Como deve ser em todos os tempos, a proposta da Igreja à época era da volta às origens, isto é, à Palavra de Deus.
Modificando a sociedade a partir do conteúdo dos Evangelhos é possível formar a grande fraternidade dos filhos de Deus e enfrentar problemas que contradizem o plano do criador, assim pensava ele.
Segundo Dom Marcelo, trabalhar para melhorar a ordem social, cultural e até política e econômica, é preparar o mundo do amanhã.
Segundo seu entendimento, “toda esta tarefa pertence àqueles que legitimamente detêm o poder público, tem autoridade diante da sociedade”.
No seu entender, segundo “o pensamento da Igreja, o pensamento cristão, competindo transmitir valores, competindo também educar para a realização de um mundo mais fraternal, mais solidário, mais dedicado e mais humano”.
Estas colocações mostravam que Dom Marcelo Carvalheira chegava à Paraíba com uma missão bastante clara: servir ao povo, nunca ser servido. Estimular a Igreja da libertação integral na luta pelos direitos dos “que tem fome e sede de justiça”. A Igreja pé no chão. A Igreja do sim. A Igreja de portas abertas para escutar o povo.
Dom Marcelo tinha o olhar para a vivência de Padre Ibiapina.

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José Nunes
José Nunes

José Nunes é jornalista e membro da Academia Paraibana de Letras (APL).