O Brasil de hoje se assemelha, como nunca, a uma Semana Santa.
Aberta no Domingo de Ramos e encerrada no Domingo da Ressurreição, essa semana é marcada por uma singularidade que atravessa os séculos: o papel da opinião pública.
No Domingo de Ramos, Jesus é recebido por uma multidão gloriosa. Estendem-lhe as mãos, os ramos, e tudo o que simboliza louvação e esperança. Mas a partir dali, começa a perseguição do sistema. Ele é traído por um dos amigos mais próximos, abandonado pelos demais e, por fim, preso.
Ao longo da semana, a verdade se despe por completo. Corre nua, como o jovem da cena quase esquecida da paixão: um homem envolto apenas num lençol que, ao ser arrancado, foge nu pelas ruas.
Na sexta-feira, tudo se decide. Em um único dia, entre todas as mesas do julgamento, Jesus é ouvido, condenado e crucificado. Diante da farsa pública, responde a Pilatos com o silêncio e com as costas — quando lhe é perguntado: “O que é a verdade?”
Não é mais a mesma multidão. A turba que coonesta a condenação, acumpliciada com o poder, já não é povo: é plateia dominada pelos interesses de quem se julga forte.
Não é mais a opinião pública.
É a opinião publicada: corrompida, comprada, necessitada — na maioria das vezes.
Cristo é crucificado entre dois ladrões. A um deles, o da direita, promete o paraíso imediato.
Dixi et salvavi animam meam.
(“Disse, e salvei a minha alma.”)
Que a terra nos seja leve.
Feliz Páscoa!