Em 2004, a iraniana Ameneh Bahrami teve sua vida transformada de forma trágica. Um homem, inconformado por ter sido rejeitado afetivamente, atacou-a com ácido, deixando-lhe o rosto desfigurado e tirando-lhe a visão. O caso chocou o mundo.
Amparada na chamada lei do talião, que autoriza a punição “olho por olho, dente por dente”, a Justiça do Irã concedeu a Ameneh o direito de retaliar seu agressor na mesma medida: despejar ácido em seus olhos. A execução da sentença estava marcada para 2011, mas, no momento decisivo, a vítima surpreendeu ao perdoar o autor do ataque, abrindo mão da vingança.
Esse episódio abre espaço para uma reflexão mais ampla. O que aconteceria se todos os países adotassem a regra de punir criminosos com o mesmo sofrimento que impuseram às vítimas? Estaríamos diante de uma carnificina institucionalizada. A violência se multiplicaria em nome da Justiça, e o mundo se transformaria num palco de barbárie.
Ainda bem que essa “moda” não se espalhou — nem deve se espalhar. O papel da Justiça não é devolver o mal na mesma moeda, mas impedir que o mal se repita. O Estado moderno se ergueu justamente para conter o ciclo interminável de vinganças pessoais.
Se a lógica da retaliação fosse universal, a sociedade colapsaria. Em vez de punir para corrigir, educar e prevenir, estaríamos apenas perpetuando o ódio. A decisão de Ameneh, ao perdoar no momento em que poderia retaliar, é a maior prova de que Justiça e vingança não são sinônimos.