A pergunta ganha força à medida que o Campeonato Brasileiro se aproxima do fim e o Flamengo abre cinco pontos de vantagem. Não foi apenas a derrota para o Grêmio, nem o empate rubro-negro com o Atlético fora de casa. A derrocada palmeirense tem um marco temporal muito preciso: 30 de outubro, o dia da noite épica contra a LDU, quando o Palmeiras produziu uma das atuações mais impressionantes de sua história recente.
Aquele 4 a 0 no Allianz Parque, revertendo um 3 a 0 sofrido na altitude de Quito, não foi apenas uma classificação extraordinária à final da Libertadores. Foi uma demonstração de força tão avassaladora que o mundo do futebol tratou o Palmeiras como franco favorito ao título continental. As casas de apostas mudaram as cotações imediatamente. A imprensa internacional se rendeu. Era como se o time de Abel Ferreira tivesse atingido um novo patamar emocional e competitivo.
E talvez aí esteja a raiz do problema.
O Palmeiras viveu contra a LDU o que muitos psicólogos do esporte qualificam como “pico emocional máximo”. Um feito tão raro e tão impactante que frequentemente empurra o atleta — ou um elenco inteiro — para a armadilha invisível do relaxamento. Não é relaxamento por ordem técnica, e sim uma complacência natural, quase instintiva. A sensação de que, depois de derrubar uma montanha daquele tamanho, tudo o mais se tornaria automático. A falsa convicção de que o pior já passou e de que, dali em diante, o respeito e o medo adversário garantiriam os resultados.
O futebol, porém, não funciona assim. E a queda foi imediata.
Nos quatro jogos seguintes do Brasileirão, o Palmeiras somou apenas dois pontos em 12 possíveis. Dois empates, duas derrotas. Uma derrocada abrupta, incompatível com o padrão competitivo do time. Números que o tiraram da liderança e praticamente colocaram o título nacional nas mãos do Flamengo. Só um milagre devolve o Palmeiras ao topo: vencer as duas partidas restantes e torcer para que o Flamengo conquiste no máximo um ponto — cenário improvável, mas não impossível.
O problema é que, antes de olhar para a tabela, o Palmeiras precisa olhar para si. O time chega à final da Libertadores emocionalmente oscilante, desgastado mentalmente e sem a confiança automática que carregava antes da remontada histórica. Aquele feito monumental, que deveria impulsionar a equipe até a reta final, acabou funcionando quase como um divisor de águas ao contrário: acionou um gatilho psicológico de relaxamento que o grupo não conseguiu controlar.
Agora, Abel Ferreira tem uma missão dupla. A primeira, e mais urgente, é reconstruir a confiança já para sábado, no Peru, contra um Flamengo que chega muito mais estável. A segunda é convencer o elenco, logo após a final, de que ainda há campeonato em disputa, por mais improvável que pareça o desfecho. O Palmeiras precisa vencer seus dois jogos finais e torcer por um tropeço quase improvável do Flamengo.
A temporada que parecia destinada a um épico — talvez um dos mais épicos da era Abel — corre o risco de terminar como um caso clássico de queda brusca de rendimento após um auge emocional. O futebol cobra caro quem acredita que já venceu antes do apito final. É isso que o Palmeiras tenta reverter agora. E já não há margem para erro.