sexta-feira, 5 de dezembro de 2025
Por que Lima Barreto causa incômodos até hoje?
05/07/2025

Lima Barreto era o tipo de sujeito que não passaria despercebido nem numa fila de banco hoje em dia. Negro, de fala afiada, alma sensível e olhar de quem enxerga muito além da esquina. Preferia o boteco ao salão literário, a calçada ao tapete vermelho. Não se deixava enganar por condecorações ou diplomas, muito menos por discursos ocos.

Causa incômodo porque Lima metia o dedo na ferida. Denunciava a hipocrisia da República recém-nascida, expunha o racismo disfarçado de cordialidade, apontava o ridículo das elites que se olhavam no espelho e enxergavam Paris, mas ao sair na rua tropeçavam na lama da própria ignorância.

Enquanto os intelectuais da época sonhavam em ser imortais na Academia, Lima sonhava com um Brasil mais justo. Ele não queria imortalidade; queria decência. Ao criar personagens como o Policarpo Quaresma, Lima nos fez rir e chorar, mas, sobretudo, pensar. E isso é imperdoável para quem vive de aparências.

Ele incomoda porque continua atual. Em tempos de redes sociais, “likes” e discursos de ocasião, a voz de Lima ecoa como um trovão: direta, desbocada, verdadeira. É um convite ao desconforto. E quem gosta de se mexer no sofá quando está quentinho?

Lima Barreto nos obriga a ver o Brasil real — esse país que insiste em esconder os pobres, os pretos, os doentes, os maltrapilhos. Por isso, continua a incomodar. Porque, no fundo, ninguém gosta de um espelho que não mente.

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