A Educafro, tradicional associação civil de promoção da igualdade racial, ajuizou uma ação civil pública contra o Flamengo, na Justiça Federal do Rio de Janeiro, cobrando indenização de R$ 100 milhões por danos morais coletivos. A entidade acusa o clube de praticar racismo estrutural em sua gestão ao longo de décadas. A informação é do colunista Ancelmo Gois, em O Globo.
Em um documento de 38 páginas, a ONG lista episódios que, segundo ela, caracterizam racismo “velado” no rubro-negro. Entre os exemplos, aparecem a subvalorização histórica de ídolos como Adílio e Andrade, a elitização dos estádios com ingressos cada vez mais caros e declarações recentes de dirigentes.
A Educafro cita como grave a fala de um diretor da base, que em julho de 2025 afirmou que “a África tem valências físicas” enquanto “a parte mental estaria em outras zonas da Europa”. Também relembra quando o presidente do clube, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, considerou “adequado” o discurso do presidente da Conmebol que minimizou episódios de racismo nas arquibancadas sul-americanas.
Segundo Frei David, diretor da Educafro, o Flamengo não é o alvo isolado. A proposta é pressionar todos os clubes e entidades do futebol brasileiro para adotar práticas efetivas contra o racismo. Para ele, ações simbólicas como faixas em campo e frases em uniformes “não passam de cosquinha” diante do problema estrutural.
A lista de pedidos da ação inclui medidas como a criação de uma comissão de igualdade racial com participação da sociedade civil, implementação de cotas raciais em cargos de liderança e democratização do acesso aos jogos, com ingressos sociais a R$ 10.
Quem é a Educafro
Fundada nos anos 1990, a Educafro nasceu com a missão de ampliar o acesso de jovens afrodescendentes e de baixa renda às universidades, públicas e privadas, por meio de bolsas de estudo e políticas afirmativas. Sua atuação mais conhecida são os cursos pré-vestibulares comunitários gratuitos ou a baixo custo, mantidos em grande parte pelo voluntariado. A entidade ganhou protagonismo nas últimas décadas por seu papel de pressão sobre governos, empresas e instituições que, na avaliação dela, perpetuam desigualdades raciais.
A ofensiva contra o Flamengo, portanto, transcende o clube: coloca no centro do debate o alcance e os limites das políticas antirracistas no futebol brasileiro. Se a Justiça acolher os pedidos, será um marco não apenas financeiro, mas institucional, forçando clubes a irem além do discurso e partirem para mudanças estruturais.