Um anjo anunciará,
entre brumas invernais,
um novo Papa,
que, pela primeira e única vez,
chamar-se-á
e será chamado por José,
(o que acrescenta).
José não possuirá a igreja,
nem a igreja será de José.
José será da igreja.
José não será pai da igreja,
contudo, dela será guardião,
educador e responsável.
Para renascer,
a igreja não será a ideal,
porque as ideias tangem
e puxam a realidade,
mas não vivem nela.
A igreja será divina,
abrigando a promessa –
e a esperança.
José será exilado
e tudo o que é seu
será do silêncio
e, talvez, do anonimato.
Sua voz será o som do surdo
ou a audição à mudez:
Voz desencantada da palavra.
A igreja sofrerá paixões,
até que o calvário
a destaque no ocaso,
rasgando o seu véu
E as separações serão
apenas diferenças.
José vai desaparecer,
sem ser notado;
as pedras, os pecados e a misericórdia
continuarão a igreja,
e a igreja será, como é a vida:
Não mais uma guerra;
Não mais um argumento político;
Não mais um sacrifício;
Sim, um gesto de amor
e eternamente Maria.
Paris, plenilúnio do outono de 2021