Foi aos 48 anos, entre uma tendinite e outra, que o sujeito descobriu que a política existia. Como quem encontra um aplicativo novo no celular e sai apertando todos os botões, entrou de sola no debate público com a elegância de um jumento em loja de porcelana.
Empolgado, repetia frases prontas como quem decorou bula de xarope. “O Brasil precisa de ordem!” — dizia, batendo no peito, sem nunca ter lido uma linha de Constituição. Descobriu recentemente que houve ditadura, mas acha que foi um “mal necessário”, porque viu isso num vídeo de WhatsApp narrado por um senhor com voz de radialista dos anos 50.
Detesta pobre com a mesma intensidade que ama o dinheiro dos ricos, que, segundo ele, são abençoados por Deus. “Jesus era empreendedor”, arrisca, citando versículos que nunca existiram, com a fé de um missionário e a lógica de um poste.
Tem orgulho de ser “livre pensador”, embora pense com a cabeça dos outros. Exalta valores da família tradicional e passa pano para os amigos com nome em inquérito. Só não sabe — e talvez nunca saiba — que a esposa frequenta academia com mais empenho do que ele frequenta o grupo de oração, e que lá tem um personal que dá mais atenção a ela do que ele jamais deu.
O militante tardio é assim: entrou atrasado no bonde, sentou na janela e quer apitar como se fosse o maquinista. Só não enxerga que o chifre que carrega é igual à ideologia que abraçou: plantado por trás e regado com desinformação.
