Mexendo hoje em meus arquivos me deparei com esse artigo do mestre Gonzaga Rodrigues. Manelito era meu amigo e gostava de me provocar. Sempre que eu ia na Carnaúba Taperoá, não sem antes avisar, ele dizia: “Por que vocês jornalistas são tão repetitivos?”. E eu respondia: “Porque os jornalistas vivem de perguntar a quem sabe”. Por isso estou aqui. Ele pedia mais um café e a conversa ia até às 7 da noite.
O texto de Gonzaga
José Euflávio está passando para o papel o que se pode e deve dizer nesses 80 anos, a completarem-se este ano, de Manuelito Dantas Vilar, súdito ou príncipe do reinado da Onça Malhada de Taperoá. Oitenta anos, cinquenta cigarros por dia, trago e baforada a cada sentença de sua invejável sabedoria.
Registram-se 80 anos, mas o que se enramou nele de ciência brotada da terra, dos centauros que a dominaram e, de quebra, das ciências acadêmicas ou não acadêmicas, dá para ter alcançado a idade da Paraíba.
Foi com espanto que conheci Manuelito Dantas Vilar trazido da Sudene para organizar as águas da capital, uma ilha fluvial, vista como de “ar sutil” e que “em aguas, ares e fertilidade, uma das regiões maus saudáveis do Brasil”, assim vista no registro poético do governador Elias Herckmans, mas flagrada por João Agripino sem um pingo de água nas torneiras. O abastecimento pelos poços de Buraquinho vinha de 1910, minguando à medida que a cidade se espraiava. Em 1951/55, José Américo já a encontrava com sede, a alternativa de Marés paralisada por falta de verba. Multiplicou o volume da represa de 5 mil para 11 mil metros cúbicos. E em 1966, com a chegada de João Agripino ao governo, a população foi encontrada no mais seco dos cariris. Pior, o estado sem dinheiro, o funcionalismo em atraso, João prendendo coronéis da Polícia para não sair do cartaz.
Foi aí que conheci Dom Manuelito, a pobreza batendo as latas em redor dos chafarizes suburbanos e a riqueza vindo abastecer-se no jorro milenar do Arruda Câmara.
Fazer o quê sem dinheiro? Apelar para o consumidor, impondo-lhe um aumento, sob a promessa de “Vamos botar um rio em sua casa”. Além do Marés, lá vem o rio Mumbaba, o sistema se estruturando em estação de tratamento e girassóis elevatórios com água de sobra para a cidade beber, se oferecer aos investimentos industriais e de serviços e lavar carro com água tratada, que luxo!
Teve a força de João Agripino, não há duvida, mas tudo sob as 2.200 cilindradas da dialética de Manuelito Dantas Vilar. Foi e continua sendo um dos mais fascinantes expositores da minha história de ouvinte. Ele, Celso Furtado e Roland Corbisier. Uma coisa é o discurso, a retórica, que pode levar à conversão, ninguém sabe se para toda a vida; outra, a exposição objetiva, didática, que modifica rotinas e molda comportamentos. Pena que Manuelito tenha se negado a melhorar os nossos quadros políticos. Certamente por saber demais.
José Euflávio está passando para o papel o que se pode e deve dizer nesses 80 anos, a completarem-se este ano, de Manuelito Dantas Vilar, súdito ou príncipe do reinado da Onça Malhada de Taperoá. Oitenta anos, cinquenta cigarros por dia, trago e baforada a cada sentença de sua invejável sabedoria.
Registram-se 80 anos, mas o que se enramou nele de ciência brotada da terra, dos centauros que a dominaram e, de quebra, das ciências acadêmicas ou não acadêmicas, dá para ter alcançado a idade da Paraíba.
Foi com espanto que conheci Manuelito Dantas Vilar trazido da Sudene para organizar as águas da capital, uma ilha fluvial, vista como de “ar sutil” e que “em aguas, ares e fertilidade, uma das regiões maus saudáveis do Brasil”, assim vista no registro poético do governador Elias Herckmans, mas flagrada por João Agripino sem um pingo de água nas torneiras. O abastecimento pelos poços de Buraquinho vinha de 1910, minguando à medida que a cidade se espraiava. Em 1951/55, José Américo já a encontrava com sede, a alternativa de Marés paralisada por falta de verba. Multiplicou o volume da represa de 5 mil para 11 mil metros cúbicos. E em 1966, com a chegada de João Agripino ao governo, a população foi encontrada no mais seco dos cariris. Pior, o estado sem dinheiro, o funcionalismo em atraso, João prendendo coronéis da Polícia para não sair do cartaz.
Foi aí que conheci Dom Manuelito, a pobreza batendo as latas em redor dos chafarizes suburbanos e a riqueza vindo abastecer-se no jorro milenar do Arruda Câmara.
Fazer o quê sem dinheiro? Apelar para o consumidor, impondo-lhe um aumento, sob a promessa de “Vamos botar um rio em sua casa”. Além do Marés, lá vem o rio Mumbaba, o sistema se estruturando em estação de tratamento e girassóis elevatórios com água de sobra para a cidade beber, se oferecer aos investimentos industriais e de serviços e lavar carro com água tratada, que luxo!
Teve a força de João Agripino, não há duvida, mas tudo sob as 2.200 cilindradas da dialética de Manuelito Dantas Vilar. Foi e continua sendo um dos mais fascinantes expositores da minha história de ouvinte. Ele, Celso Furtado e Roland Corbisier. Uma coisa é o discurso, a retórica, que pode levar à conversão, ninguém sabe se para toda a vida; outra, a exposição objetiva, didática, que modifica rotinas e molda comportamentos. Pena que Manuelito tenha se negado a melhorar os nossos quadros políticos. Certamente por saber demais.