“Quem não sonhou em ser um jogador de futebol!?”
(Skank)
Nossa geração sabe falar, cada um ao seu modo e do seu ponto de vista, sobre um gol de bicicleta que Diá, filho de Seu Joãozinho, marcou certa vez no campo de futebol.
Eu vi assim:
O universo parou e a gravidade perdeu as forças. Eram apenas Diá, a bola e o goleiro. Ele subiu deitado, esperando que os pés, ao seu comando, encontrassem a bola – e nem sei quem foi o lançador. Ela veio chegando, e ele pedalou, escolhendo o momento e o ponto exato do gol.
Somente ele, a bola e o goleiro tinham cor.
Diá estava completamente deitado, a uns dois metros de altura.
Dizem que a bola veio da direita, lá do canto perto da casa de Badi.
A trave era a que dava para a Rua Malaquias Barbosa, no Rabo da Gata.
Ele chutou, e a bola foi esquadrinhando o tempo e o espaço, em câmera lenta.
Quando ia chegando ao nível de gol absoluto, perdi a visão – o campo fora invadido – e a cena recuperou a cor.
Alguém levantou Diá, todo ensanguentado, pois caíra sobre o terreno pedregoso, sem grama. Lembro do corpo dele pintado de sangue e de um sorriso suado em um rosto de resistência telúrica.
Eu, como outros narradores dessa cena, escolho o adversário de acordo com o público que ouve a conversa. E ainda uso como epílogo um lance, na quadra do Colégio São José, que desempatou, em nosso favor, uma partida que terminaria 5 x 5, se não fosse um gol de Diá: pela direita, esgueirou-se como poesia pela arquibancada e guardou a bola na rede, sob o olhar atento e inesquecível do goleiro adversário.
Nos nossos campinhos, nos dias seguintes, quem não podia ser Diá era Garrincha ou Pelé.
*De Jatobá – Memórias de um Cascadura
