O Corinthians é muito mais que um clube de futebol. É uma paixão nacional, a segunda maior torcida do país, um patrimônio cultural do Brasil. O que acontece dentro de seus muros não afeta apenas um time, mas reverbera em milhões de corações apaixonados. Por isso, a notícia que vem de São Paulo é tão grave quanto simbólica.
O Ministério Público paulista abriu investigação para apurar a suspeita de envolvimento do Corinthians com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Além disso, o MP apura gastos pessoais indevidos realizados pelos últimos três presidentes do clube. O estopim da investigação foi um depoimento do presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Júnior, que relatou pressões e ameaças após afirmar que o crime organizado teria se infiltrado na instituição.
Se confirmadas, as denúncias jogam luz sobre um dos maiores paradoxos do Corinthians: o clube que mobiliza multidões, que tem o poder de parar São Paulo com um simples jogo decisivo, é o mesmo que vive atolado em dívidas, crises administrativas e suspeitas constantes. Talvez, como agora se sugere, a raiz de parte dessa instabilidade esteja justamente na contaminação de seus bastidores pelo crime.
O que deve preocupar não são apenas os corintianos, mas toda a sociedade. Porque o futebol, como reflexo do Brasil, mostra aquilo que muitas vezes se prefere ignorar. O mesmo PCC que se insinua no clube do Parque São Jorge já deu demonstrações recentes de poder e alcance muito além das periferias ou do sistema prisional.
Exemplo claro disso foi o escândalo envolvendo a presença do PCC em plena Faria Lima, coração do mercado financeiro brasileiro. O contraste é perturbador: de um lado, um dos clubes de maior popularidade do país; do outro, o mais sofisticado centro financeiro da América Latina. Ambos, aparentemente, permeáveis à infiltração de uma mesma organização criminosa.
O que une o Corinthians e a Faria Lima nesse enredo é a evidência de que o crime organizado não conhece barreiras sociais. Ele se infiltra tanto no campo de futebol quanto nas salas envidraçadas dos prédios corporativos.
O torcedor corintiano, fiel e apaixonado, merece um clube que o represente com dignidade, não um palco de escândalos e suspeitas. Mas a sociedade brasileira, como um todo, também precisa refletir: até onde vamos tolerar que facções criminosas ditem regras invisíveis no nosso cotidiano?
