quarta-feira, 2 de abril de 2025
O contador de histórias
01/01/2025
  • Por Zé Euflávio

Todo bom barbeiro, seja na cidade que for, é um bom contador de história e Zé Genézio não fugia à regra. Era o barbeiro do Principado de Sant’Ana do Garrote e contava uma história muito bonita. Não se sabe onde ele aprendia isso.

Todos nós possuímos, mais ou menos marcada, uma covinha no centro do queixo. Zé contava sua origem. Dizia ele que quando um bebê nasce, no mesmo instante em que ele vem ao mundo, um anjo passa e coloca-lhe um dedo sobre a boca. Esse gesto o impede de revelar os segredos que ele conhece até aquele momento.

— Nossa covinha nasce do dedo de um anjo— ensinava.

Seleboia era um negro velho e ganhava a vida engraxando sapatos e não gostava que lhe chamassem de engraxate. “Sou lustrador de couro”, explicava.

Sua cadeira de trabalho era instalada na calçada da Barbearia de Zé Genézio e os dois viviam às turras, porque o barbeiro só contava uma história botando o danado do Nego para baixo, que era analfabeto, mas inteligente e muito astuto.

Zé inventou de contar as aventuras que fez em um Cruzeiro, viajando no porão de um navio e Seleboia prestando atenção na narrativa.

— Zé Seleboia, mas nem tudo é festa, porque teve uma noite que eu estava na minha cabine quando começou entrar água. Eu tinha que sair dali. Vi a escotilha e pensei: vou sair por ela. Mas, a saída era muito estreita. Tirei a roupa, fiquei nu, passei vaselina no corpo e saí. Quando eu botei a cabeça para fora, na água, me aparece um tubarão. Eu puxei minha faca e fui pra cima dele — entendeu?

— Cumpade Zé, me explique uma coisa: de onde você puxou essa faca, se você estava nu?

— Ah! Seleboia , você não quer ouvir uma história. Você quer discutir.

Teotônio Neto, homem rico, deputado federal, empresário bem sucedido, tinha devoção por nossa senhora Sant’ana e todo mês de julho ia à festa da cidade. Fazia questão de cortar o cabelo com Zé Genézio e engraxar os sapatos com Seleboia.

Haja hoje para tanto ontem

Nem sempre viveremos situações felizes.

Nem seremos fortes o tempo inteiro, nem ao menos, saberemos o que fazer frente a todas as circunstâncias.

Por vezes, nos sentiremos tristes, frágeis e perdidos.

Mas tudo passa.

Isso também.

Com o tempo, buscamos soluções, encontramos caminhos, descobrimos o que fazer e atravessamos o momento.

Aos poucos, conforme nosso próprio tempo de elaboração.

E quando olharmos para trás, veremos com uma autoadmiração: Conseguimos!”

Feliz Ano  Novo..

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Zé Euflávio

Zé Euflávio é um dos jornalistas mais respeitados da Paraíba, com passagens também pelo Correio Braziliense.