Causou surpresa — e uma surpresa das mais agradáveis — o comportamento do novo técnico do Botafogo, Davide Ancelotti, em sua primeira entrevista coletiva no Brasil. Filho de Carlo Ancelotti, comandante da seleção brasileira, Davide surpreendeu a todos ao falar português fluentemente, com apenas um mês de convivência no país.
O gesto é simbólico. E revela um traço de profissionalismo que ainda falta a muitos personagens do mundo do futebol. Talvez por isso tenha ganhado destaque um aplicativo chamado ‘Fútbol Lingo’, que ensina mais de mil palavras e expressões típicas do futebol em nove idiomas diferentes — entre eles, o português do Brasil. Criado pelos irmãos britânicos Sam e Tom Marchesi, o app virou ferramenta em clubes da Premier League para facilitar a comunicação entre atletas de diversas nacionalidades. É como um “tradutor de vestiário”, que ensina expressões como “marca o homem”, “vira o jogo” ou “joga na entrelinha”, com áudio, imagem e contexto.
O Brasil, aliás, foi lembrado de forma carinhosa pelos criadores do aplicativo: apesar da língua portuguesa também ser falada em Portugal e países africanos, a versão usada no app é a brasileira, por um motivo simples — o Brasil é um dos maiores exportadores de jogadores do planeta.
Não faltam exemplos de como aprender a língua local pode ser uma ferramenta poderosa de sucesso. Marquinhos, zagueiro do PSG, é fluente em francês. Thiago Silva fala vários idiomas. João Pedro, recém-chegado ao Chelsea, já concede entrevistas em inglês com naturalidade. Entre os poliglotas do futebol, estão Romelu Lukaku (sete idiomas), Vincent Kompany (cinco) e William Troost-Ekong (seis).
Mas também não faltam exemplos de descaso. O argentino Jorge Sampaoli, que já treinou meia dúzia de clubes brasileiros, jamais se interessou em aprender português. Soa como um desrespeito.
No extremo oposto de Sampaoli está Pep Guardiola. Quando foi contratado pelo Bayern de Munique, fez questão de só assumir o time depois de aprender alemão. Não apenas aprendeu — como venceu títulos importantes no clube.
A lição que Davide Ancelotti nos dá, portanto, vai além do idioma. Trata-se de respeito, dedicação e profissionalismo. Falar a língua do país onde se trabalha é mais do que uma formalidade — é uma forma de jogar junto.
